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Uma recrutadora de São Paulo, de 20 anos, que preferiu não se identificar, tinha uma dívida de R$ 11.767,57 — R$ 1.883,44 de cartão de crédito e R$ 9.884.13 de um empréstimo pessoal. Na tentativa de renegociar as dívidas, entrou em contato com um número de WhatsApp que encontrou na internet que dizia ser da Serasa.

O número era falso, a recrutadora caiu em um golpe e perdeu R$ 399,35. Durante a conversa via mensagens, um suposto atendente da Serasa afirmou que a dívida total poderia ser quitada por R$ 2.499,35 (uma entrada de R$ 399,35 mais seis parcelas de R$ 350 sem juros). O desconto seria de 79% do valor total da dívida.

O valor baixo da renegociação fez a recrutadora achar que estava fazendo um bom negócio. A desconfiança surgiu no dia seguinte quando entrou no aplicativo oficial da Serasa e seu nome continuava sujo.

De acordo com o suposto atendente, seu nome estaria limpo em até 24 horas depois do pagamento da entrada.

Como a recrutadora caiu no golpe? Ela informou o número do CPF e a pessoa do outro lado das mensagens teve acesso aos débitos em aberto, com valores, nome completo da vítima e os dois bancos para os quais estava devendo.

A recrutadora disse que se sentiu mal com o acontecido e que ficou preocupada com o vazamento de seus dados.

Sobre a segurança dos dados dos usuários, a Serasa diz que combate o aumento nas tentativas de fraude por denúncias e que produz conteúdo para educar os consumidores.

A empresa afirma que a transparência no tratamento das informações é um compromisso e que os consumidores podem acessar o site oficial para conseguir explicações sobre como realizam a coleta, a utilização, o fornecimento e o armazenamento de dados pessoais.

A Serasa diz que está “comprometida com a segurança dos consumidores e disponibiliza equipes preparadas para tirar dúvidas sobre seus serviços”.

Depois do golpe, a recrutadora resolveu ir diretamente ao banco em que tinha a dívida maior (de quase R$ 10 mil) para renegociar. Como precisava de um prazo mais longo de pagamento, os juros fizeram com que o valor da pendência subisse para quase R$ 20 mil.

O que se sabe sobre o golpe? A reportagem encontrou pelo menos quatro números usados para aplicar o golpe, além de uma chave Pix. A Serasa confirmou que os celulares e o email da chave não são da instituição —trata-se de uma fraude.

Dos quatro números encontrados, três são contas comerciais e um é uma conta pessoal. Os quatro possuem o logotipo da Serasa na foto de perfil e a mensagem “Estamos sempre à disposição!”.

No Reclame Aqui, há pelo menos 18 queixas que citam o nome do mesmo suposto atendente que fez a falsa renegociação da recrutadora.

A reclamação mais antiga é de outubro de 2021. Todas as outras foram feitas a partir de 7 de junho deste ano.

A reportagem encontrou um CNPJ ativo ligado ao nome, cadastrado em um endereço em São Paulo.

O número de telefone do cadastro é de um escritório de advocacia. A reportagem conversou com uma recepcionista do local que disse que o homem não é advogado do escritório e que ele é um “estelionatário”.

O CNPJ foi aberto em agosto do ano passado e a empresa foi cadastrada como uma microempresa.

A chave Pix que foi usada pela recrutadora no dia 7 de julho estava no nome do suposto atendente e vinculada a uma conta do Mercado Pago.

No dia 25 de julho, a reportagem checou a chave e ela estava vinculada a uma conta do PicPay em nome de outra pessoa, com o mesmo sobrenome do atendente da recrutadora.

A Serasa afirma que os dois homens não são colaboradores da empresa e não possuem nenhum tipo de vínculo com a companhia.

Como se prevenir de golpes? Aline Maciel, gerente da Serasa, diz que os golpistas normalmente oferecem renegociações com valores muito atrativos, bem mais baixos do que a dívida original, o que faz com que o consumidor feche negócio para limpar o nome.

A Serasa diz que nunca entra em contato com os consumidores para renegociar dívidas. Para acertar os débitos pelo WhatsApp, o consumidor é quem deve entrar em contato com a empresa (veja o passo a passo mais abaixo).

Na conversa, o consumidor informa os dados pessoais e recebe algumas propostas pré-aprovadas de renegociação. Ao selecionar a que deseja, vai receber um boleto para pagamento. A Serasa não oferece Pix como forma de pagamento.

Os boletos sempre possuem o logo da Serasa e o nome da empresa para quem a pessoa está devendo — se estiver devendo a um banco, por exemplo, o recebedor será o nome do banco, nunca o de uma pessoa física.

O número oficial do WhatsApp da Serasa é autenticado pela plataforma e tem um selo verde ao lado do nome.

Fui vítima de um golpe, o que fazer? Adib Abdouni, advogado criminalista, afirma que a vítima deve procurar as autoridades assim que perceber que caiu em um golpe e fazer um boletim de ocorrência.

A vítima precisa unir todas as evidências que tiver para provar que caiu em um golpe, como trocas de emails, conversas por WhatsApp e o comprovante do pagamento.

Se o golpe tiver começado a partir do vazamento de informações, a pessoa provavelmente vai conseguir uma indenização por parte da empresa que vazou os dados —se as autoridades identificarem a origem das informações.

Caso o golpista tenha conseguido os dados com a própria vítima, aí o resultado é prejuízo.

Qual a pena para esse crime? Prisão de um a cinco anos e multa, de acordo com Abdouni.

Quais os canais oficiais de atendimento da Serasa? O número oficial de WhatsApp da Serasa Limpa Nome é (11) 99575-2096, que pode ser usado para renegociar dívidas ou contas atrasadas.

Outros canais oficiais de contato com a Serasa são o número 3003-6300 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h) para atendimento ao consumidor e o número 0800 591 1222 para a Serasa Limpa Nome, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.

POR: UOL
FOTO: Pexels