A linguagem é uma das ferramentas mais poderosas do ser humano, que nos diferencia das demais espécies e nos permite nos comunicar e transmitir informações, sentimentos, desejos… além de perpetuar a cultura e o conhecimento. Muitos psicólogos analisaram o seu papel no desenvolvimento; um deles foi o psicólogo russo Lev Vygotsky, que fez contribuições importantes a esse respeito. No entanto, a linguagem oral às vezes é alterada por diferentes causas, o que provoca alguns tipos de distúrbios da fala.

Ter um distúrbio da fala pode gerar consequências de todos os tipos: sociais, acadêmicas, pessoais… A fala faz parte do nosso dia a dia e nos permite interagir, compartilhar informações, nos expressar, mas quais distúrbios da fala existem? Vamos conhecer a sua definição, causas e sintomas.

“Para entender a linguagem dos outros, não basta compreender as palavras; é necessário entender os seus pensamentos”.
-Lev Vygotsky-

Tipos de distúrbios da fala

Tipos de distúrbios da fala

Existem diferentes tipos de distúrbios da fala que envolvem uma deficiência na criação ou formação dos sons da fala, necessários para a comunicação com outras pessoas. Os distúrbios da fala dificultam a fala correta das crianças (o que afeta a pronúncia, a formação das palavras, etc.), prejudicando o seu entendimento.

No DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), encontramos os seguintes distúrbios de comunicação:

Distúrbio da linguagem
Distúrbio do som da fala.
Distúrbio da fluência de início na infância.
Distúrbio da comunicação não especificado.
Distúrbio da comunicação social.

No entanto, neste artigo, abordaremos apenas os tipos de distúrbios da fala, não os distúrbios da comunicação. Portanto, falaremos apenas sobre alguns dos mencionados (aqueles que afetam a fala). Vamos descrever as suas características mais importantes.
Distúrbio da linguagem (disfasia)

O distúrbio da linguagem (ou disfasia) envolve uma série de dificuldades na compreensão e expressão da linguagem que afetam as crianças com inteligência adequada à sua idade ou nível de desenvolvimento. Essas dificuldades se manifestam na linguagem oral e escrita, mas também na leitura. Em outras palavras, é um distúrbio bastante global.

Dependendo da sua origem, o distúrbio da linguagem ou disfasia pode ser de dois tipos:

Disfasia do desenvolvimento: sua causa é desconhecida (não pode ser causada por outros distúrbios). Está presente a partir do momento em que a criança começa a se comunicar.
Disfasia adquirida: ocorre como resultado de algum tipo de acidente cerebral, traumatismo craniano, distúrbio convulsivo, etc. É caracterizada por uma hipoprodutividade da linguagem (é notavelmente diminuída).

Por outro lado, de acordo com o processo alterado, podemos falar de dois tipos de disfagia:

Disfasia receptiva: afeta a compreensão.
Disfasia expressiva: afeta a expressão.

Finalmente, encontramos um tipo especial de disfasia (neste caso, a disfasia adquirida), que vale a pena mencionar: a chamada disfasia de Landau Kleffner (afasia epiléptica adquirida). É um distúrbio receptivo-expressivo que se manifesta com múltiplas alterações no EEG (eletroencefalograma) do paciente. Sua causa é um AVC epiléptico e seu início típico ocorre entre os 3 e 7 anos. Geralmente surge abruptamente.
Transtorno fonológico (dislalia)

Continuando com os tipos de distúrbios da fala, encontramos o distúrbio fonológico (dislalia), também chamado de distúrbio fonético.

A dislalia é um distúrbio que envolve erros ou dificuldades na articulação das palavras. Os erros mais frequentes nas dislalias são a substituição de sons, as distorções dos sons e a falta (omissão) ou adição (inserção) dos mesmos. Sua causa é funcional, ou seja, não há lesão orgânica que a justifique (sua etiologia é desconhecida).

A dislalia é um dos distúrbios da fala mais comuns na infância. Estima-se que 2 a 3% das crianças entre 6 e 7 anos sofram de dislalia moderada ou grave, embora a prevalência aumente nos casos leves. Para o diagnóstico de dislalia, é necessário que os erros que a criança comete ao falar sejam inadequados de acordo com seu nível de desenvolvimento e interfiram no seu funcionamento social e acadêmico.
Gagueira (disfemia)

A gagueira ou disfemia, também chamada de distúrbio da fluência, que se inicia na infância no DSM-5, é certamente um dos distúrbios mais conhecidos socialmente.

A gagueira afeta a fluência e o ritmo da fala. Ao falar, a pessoa com gagueira emite um ou mais espasmos, bem como bloqueios no início ou durante a fala. Isso resulta em uma interrupção do ritmo normal da comunicação.

Esse transtorno geralmente começa entre as idades de 3 e 8 anos. Isso acontece porque, nessas idades, o padrão normal de fala começa a ser adquirido. De acordo com a sua duração, encontramos diferentes tipos de disfemia:

Disfemia evolutiva: dura poucos meses.
Disfemia benigna: dura poucos anos.
Disfemia persistente: é crônica e observada em adultos.

Curiosamente, pessoas com gagueira não gaguejam nas seguintes situações: quando cantam, quando recitam um texto aprendido, quando estão sozinhas ou quando conversam com animais de estimação. Este mapa de afetação sugere que se trata de um transtorno altamente influenciado pela ansiedade social.

Por outro lado, segundo um estudo de Ramos (2019) que reúne outros estudos, a música e seus componentes (como o ritmo) podem ajudar as pessoas que gaguejam a controlar a velocidade da fala, reduzir a tensão facial, aumentar a coordenação fono-respiratória e a reduzir a sua disfluência da fala.
Homem treinando discurso

Disglossia

Outro distúrbio da fala é a disglossia; a disglossia causa uma dificuldade significativa em articular os sons que compõem a fala. Surge como consequência de alterações dos órgãos orofonatórios (por exemplo, malformações congênitas dos lábios, dentes, língua …). Ou seja, sua causa é orgânica.
Disartria

A disartria é outro distúrbio da fala, desta vez provocado por alterações do controle neuromotor (lesão do sistema nervoso). Assim, se traduz na dificuldade de articular palavras, ocasionada por problemas neurológicos que fazem com que a boca e os músculos que emitem a fala não apresentem um tônus ​​muscular adequado, o que impede a pessoa de articular as palavras de maneira adequada. Assim como a dislalia, a disartria é um dos distúrbios da fala mais conhecidos.
Afasias

Encontramos diferentes classificações de afasias. De acordo com o modelo neuropsicológico clássico, a afasia implica em gravidade (ao contrário da disfasia, que é menos grave). Por outro lado, de acordo com o modelo cognitivo, o que diferencia a disfasia da afasia é que esta é adquirida (vs. a disfasia, que é evolutiva).

No entanto, outros autores sugerem que o que diferencia as afasias das disfasias é que elas ocorrem em adultos e não em crianças. Independentemente da sua classificação, o que fica claro é que a afasia implica perda ou alteração da linguagem e ocorre em decorrência de alteração ou lesão cerebral (por exemplo, devido a um acidente vascular cerebral ou traumatismo craniano).

Dependendo da localização da lesão, encontramos diferentes tipos de afasia, com sintomas muito diferentes. Neste artigo, você vai encontrar mais informações em relação a esses tipos de transtornos.

“A linguagem é muito poderosa. A linguagem não apenas descreve a realidade. A linguagem cria a realidade que descreve”.
-Desmond Tutu-

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