Após novos cortes orçamentários no final deste ano, o Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) fechou as portas de forma parcial, na segunda-feira (12), por falta de comida. De acordo com a administradora do RU, Milena Fernandes, o saldo de alimentos que tem, no momento, só permite atender cerca de 100 alunos que moram na Residência Universitária (RUA).

“Temos que aguardar até que o Governo Federal autorize a emissão de novos empenhos de compra, para retornarmos ao funcionamento normal, com atendimento a toda comunidade acadêmica da Ufal”, explicou Fernandes.

Ainda segundo Fernandes, o recurso bloqueado também é para o pagamento dos terceirizados que trabalham no Restaurante Universitário, mas não houve demissões. “Por enquanto, os terceirizados estão trabalhando em regime de escala, mas acreditamos que voltaremos a funcionar normalmente em breve, apesar de ainda não existir previsão”, afirmou.

O RU funcionava oferecendo refeições para toda a comunidade acadêmica – alunos de graduação, pós-graduação e servidores, com três refeições, de segunda a sexta, sendo a primeira delas servida apenas para os estudantes da Residência Universitária (RUA). E também durante os sábados letivos, no horário do almoço.

Diariamente, cerca de duas mil pessoas almoçavam no RU e no jantar em torno de 1,8 mil pessoas. O almoço custava R$ 3 para estudantes de graduação, R$ 5 para alunos de pós-graduação e R$ 8 para o quadro de servidores da Universidade. Já no período do jantar, o café regional era servido por R$ 3, enquanto sopas, bolos doces e tortas salgadas custavam R$ 1, cada.

O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, considera como esdrúxula a situação que o Executivo Federal está vivendo com relação à questão orçamentária. “Nos preocupa demais a incapacidade de a gente conseguir botar a universidade para funcionar na plenitude, face aos cortes orçamentários que estão cada vez mais agressivos”, disse.

Segundo Tonholo, além do Restaurante Universitário, que teve que fechar para os não residentes da RUA por falta de comida, os cortes impactam bolsa, assistência estudantil e terceirizados, que dependem do recebimento do Governo Federal.

“Nós tivemos, no dia 28 de novembro, um bloqueio do limite de empenho que atingiu R$ 9,5 milhões. Logo na sequência, o Ministério da Economia veio de uma forma mais grave e cortou o orçamento da universidade, aumentando esse teto para R$ 10,2 milhões. E agora, no dia 5 de dezembro, nós recebemos a informação que mesmo aquelas contas que já estavam contratualizadas, empenhadas e liquidadas correm o risco de não serem pagas”, afirmou.

Tonholo disse ainda que a Ufal vai resistir enquanto puder, com seus estudantes, técnicos, docentes e terceirizados, e que estão na expectativa com um novo governo, a partir de 1º de janeiro.

“Esperamos que a situação das universidades seja entendida em toda sua complexidade e a gente possa ter não só a reparação do rombo orçamentário que esse governo propiciou para a educação superior como uma expectativa de replanejamento do papel da nossa universidade, que é estratégica na diminuição das desigualdades das nossas regiões periféricas”, contou.

Alunos relatam prejuízos com suspensão do serviço

O estudante de letras Mateus Pimenta contou que almoçava e jantava com frequência no Restaurante Universitário e já começou a se sentir prejudicado. “Quase todos os dias eu almoçava, exceto nos feriados ou quando a aula era cancelada. Também costumava jantar e, para mim, o jantar era melhor que o almoço porque, além de me alimentar de forma saudável, socializava com os meus amigos. É também um espaço de convivência para os alunos. Quando precisei ir à Ufal na segunda, tive que comer biscoito recheado”, disse.

Pimenta disse ainda que espera que as atividades do RU sejam retomadas no próximo período. “Por ser final de período não estou sofrendo muito, já que fui aprovado em certas disciplinas e outras tenho que entregar trabalho de forma online. Mas nos dias que preciso me alimentar na Ufal está sendo complicado. Espero que voltemos em janeiro com o RU funcionando”, afirmou.

A aluna de pós-graduação Marília Ferreira também se sente prejudicada com o fechamento do RU, mesmo utilizando com pouca frequência, e contou que, desde a época de graduação, utilizava o Restaurante Universitário.

“Cursei jornalismo na Ufal e sempre utilizei o RU para fazer as refeições. Como as aulas da pós são aos sábados, achei maravilhoso poder almoçar no RU, que funciona nos sábados letivos, pois temos comida de qualidade e num preço bastante acessível. Muitos alunos dependem do RU para se alimentar e, assim como eu, outros estudantes de pós também estão sentindo esse prejuízo, pois teremos que procurar outros locais nas proximidades da Ufal para se alimentar e tendo que pagar o dobro do preço”, disse Ferreira.

O estudante de pedagogia Everton do Rosário costumava jantar toda sexta-feira e agora não sabe como vai fazer para se alimentar. “Eu estudo à tarde e pago uma disciplina dia de sexta à noite, aí sempre jantava no RU. Ele é o local com o preço mais acessível dentro da universidade, com sopa por R$ 1 e café regional por R$ 3. No meu bloco mesmo, um macarrão instantâneo custa R$ 5. Ainda bem que estamos no final de período”, afirmou. 

Por Luciana Beder com Tribuna Independente

Foto: Adailson Calheiros