A princípio Djavan pensou no Rei Pelé. A ideia era reviver o clima de catarse que envolveu o lançamento do seu sexto álbum, Lilás, na terra natal, há quase 40 anos. Assim como oferecer um local amplo para que o maior número possível de fãs e conterrâneos pudessem ir vê-lo inaugurar sua nova turnê mundial, D, batizada com o mesmo nome de seu 25º álbum de estúdio, que deve percorrer mais de 50 cidades do Brasil, Europa e Estados Unidos. Ou quem sabe também quisesse sentir o prazer de executar sua música no gramado da principal praça de futebol de Alagoas e reviver assim os anos em que desfilava sua habilidade com a camisa do juvenil do CSA.

“Mas aí não foi possível porque o gramado não está em condições de receber o show. Então descolamos esse local em Jaraguá, que é um lugar onde já ocorrem eventos grandes. Aí montamos essa estrutura para possibilitar esse show, com uma coisa maior em relação aos shows que serão feitos nas outras cidades do Brasil”, explica ao telefone Djavan Caetano Viana, 74 anos completados no último dia 27 de janeiro, cheio de juventude e melodia na voz que flui pelo alto-falante do celular. Foi o próprio que bateu o pé e praticamente exigiu iniciar sua nova expedição musical na terra que o pariu, como quem pede a benção à mãe para ganhar (mais uma vez) o mundo.
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“Eu escolhi abrir a turnê em Maceió porque eu queria fazer um espetáculo bacana na minha cidade, queria proporcionar ao público em geral um show com uma atmosfera bem maior com relação aos shows anteriores e principalmente proporcionar esse momento ao público com menor poder aquisitivo”, continua ele ao ressaltar a iniciativa de garantir ingressos com valores mais acessíveis para quem quiser conferir de perto, nesta sexta-feira, dia 31, às 19h, no Estacionamento de Jaraguá, na zona portuária de Maceió.

No set list, além de canções que compõem seu último álbum, a exemplo de ‘Num Mundo de Paz’ e ‘Iluminado, os fãs alagoanos vão poder curtir clássicos que marcaram a carreira de Djavan, a exemplo de Sina, Oceano e Flor de Lis. Para este show, o artista incluiu ainda no repertório Vento do Norte, canção gravada em seu primeiro disco, A voz – O violão – A música de Djavan, lançado em 1976. Depois da música Alagoas, talvez seja a composição que mais faça o artista lembrar dos tempos em que ainda vivia em Maceió.

“A canção Alagoas de fato é a cara disso tudo [terra natal], ‘Ô Maceió é três mulher pra um homem só’”, lembra. “Mas essa música não foi composta em Maceió. Já Vento do Norte é uma das raríssimas canções que compus na minha cidade e que pude gravar”, diz ao ressaltar a importância de executar a canção no show desta sexta-feira.

Sempre muito bem acompanhado, para garantir a qualidade musical do espetáculo, Djavan subirá ao palco cercado de um time de músicos de primeiríssima linha: Marcelo Mariano (baixo e vocal), Felipe Alves (bateria), João Castilho (guitarra, violão e vocal), Paulo Calasans (piano, teclado e vocal), Renato Fonseca (teclado e vocal), Jessé Sadoc (trompete, flugelhorn e vocal) e Marcelo Martins (saxofone, flauta e vocal). Tirem as crianças da sala, é papo de gente grande.

Dito isto, cumprida a pauta de divulgação do show, o repórter/fã tentou aproveitar o que restava dos pouco mais de dez minutos de entrevista, pontualmente iniciada, para engatar um papo e matar a curiosidades sobre o ídolo.

Qual a substância, o ingrediente, que você levou de Maceió, de Alagoas, que permanece na sua maneira de compor e fazer música?

Em Maceió eu descobri que a diversidade musical é o meu foco. Foi em Maceió que eu aprendi a ouvir de tudo, descobri como é que se faz um ritmo. Minha formação musical começou aos 14 anos, quando eu descobri uma diversidade musical muito grande, quando pude ouvir muita música francesa, italiana, americana, enfim, a própria música brasileira, com seus ritmos, o baião, o samba… Foi nessa fase que comecei a descobrir essas coisas, porque até então eu só tocava Beatles com a LSD [banda alagoana da qual fez parte, no final dos anos 60 e início da década de 70] e alguma coisa de MPB.

Com a banda LSD, no final dos anos 60, em Maceió (imagem reproduzida do site do artista)

Você é reconhecido como exímio violonista, dono de uma maneira de tocar que terminou virando uma marca. Além dos acordes complexos, a tua mão direita, as levadas, fizeram criar o estilo “Djavan” de tocar. É um verdadeiro terror para os violonistas iniciantes que tentam tocar tuas músicas. Como você desenvolveu essa forma de tocar?

Eu acho que o meu olhar pra música é distinto mesmo, sempre foi. Não só o meu violão, mas minha divisão, minha melodia, minha harmonia, a minha letra, elas são muito pessoais. Então, o violão, simplesmente, ele obedeceu esse trâmite. Eu toco diferente, eu tenho uma pegada diferente, que eu não sei exatamente como foi que ela nasceu. Só sei que quando eu comecei a compor as primeiras músicas, eu já percebi que tinha uma coisa diferente. E, logo depois, os músicos começaram a perguntar onde estava o “um” das minhas músicas, que é o tempo forte da música (risos). Aí eu descobri que o meu “um” era em um lugar que era diferente de todo mundo (risos). Mas não foi intencional, ela veio organicamente, quando eu comecei a fazer as coisas, ela começou a nascer dessa maneira.

Eu li em algum lugar que o Filó Machado, cantor e compositor paulista, teria te influenciado nessa questão da tua maneira de tocar violão. Isso aconteceu?

Não. O Filó é um grande amigo que conheci em São Paulo. O que aconteceu é que fizemos uma parceira em Jogral [canção gravada no álbum Seduzir, quarto disco da carreira de Djavan, lançado em 1980], música que compusemos junto com o Netão (José Neto). Mas quando conheci o Filó, minha música já estava pronta e meu estilo já estava definido (risos).

Você tem acompanhado a produção musical de Alagoas. Algum artista alagoano te chama a atenção?

Eu consigo acompanhar pouquíssimo. Porque eu não tenho tanto tempo, assim como as coisas não chegam pra mim com essa frequência. Mas eu poderia citar por exemplo o Rodrigo Avelino, é um compositor que tem talento.

O seu último disco de estúdio, D, lançado no ano passado, traz a faixa Beleza Destruída, uma parceria entre você e Milton Nascimento, que recentemente se despediu dos palcos. É o primeiro e único trabalho, pelo menos até agora, feito por vocês dois. Por que esse momento demorou tanto para acontecer?

Na verdade, a gente não sabe porque só agora. Eu e Milton sempre tivemos, se não uma convivência frequente, uma convivência forte. Nós sempre fomos admiradores um do outro. Mas nós, muito tímidos, nunca nos aproximamos o bastante para produzir uma coisas juntos. Isso agora aconteceu, e eu confesso que não foi mérito meu nem dele, mas sim dos nossos empresários, que também estranharam essa demora, essa falta, de não termos feito nada até hoje. Aí começaram a dar força e acabaram nos juntando e a gente fez.

Serviço:

Djavan – Estreia da turnê ‘D’ em Maceió

Local: Estacionamento do Jaraguá

Data: 31/03/2023 (Sexta-feira)

Abertura dos portões: 19h

POR: Lelo Macena/ TNH-1
FOTO: Gabriela Schmidt