Chega a 13 o número de pessoas que tiraram a própria vida, após o surgimento de rachaduras e afundamento do solo que atingiram os bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol, em Maceió. “Nós não chegamos a fazer um levantamento, mas os casos de suicídio que se tornaram públicos foram 13 até o momento. O primeiro a ser manchete foi o do policial civil Ronaldo. Os outros casos de suicídio não foram pauta dos jornais, ficamos sabendo pelos grupos de moradores”, afirmou Neirevane Nunes, integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).

Na terça-feira (17), o ex-morador de bairro afetado, Júlio César Chaves e Silva, de 63 anos, foi encontrado morto, em um dos imóveis desocupados por causa da mineração, na Rua Santa Rita, no Farol. A suspeita é de suicídio por ingestão de veneno de rato.

Segundo Nunes, o movimento não tem o quantitativo de pessoas que desenvolveram problemas clínicos e psicológicos depois de terem deixado os bairros afetados, mas são muitos. “Há pesquisas ainda sendo desenvolvidas sobre o adoecimento dessa população Entre nós sempre comentamos que parece que a Braskem assinou nossa sentença de morte”, disse.

O presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió e integrante do MUVB, Alexandre Sampaio, afirma que souberam de muitos casos de mortes precoces por infarto, AVC, depressão e doenças autoimunes, e que o Governo Municipal sonega informações do sistema de saúde sobre a mudança do perfil epidemiológico da população afetada.

“Simplesmente não fazem. E isso ajuda a Braskem, já que só o Governo detém essas informações e a falta delas inviabiliza as consequências do crime. E os governos Estadual e Federal não fazem levantamentos sérios sobre o nível de adoecimento da população afetada pela Braskem”, contou.

Ninguém foi indenizado de verdade, afirma presidente de associação

Para o presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió, Alexandre Sampaio, ninguém foi indenizado pela Braskem. “A mineradora, na verdade, destruiu e comprou barato os imóveis e negócios das vítimas do seu crime”, afirmou Alexandre Sampaio.

A integrante do MUVB, Neirevane Nunes, considera uma imoralidade o valor imposto para as vítimas como Dano Moral. “Fere preceitos do Direito Internacional e da Legislação Brasileira. O valor imposto às vítimas é um absurdo pois nós sabemos que o Dano Moral deveria ser pago individualmente, por cada pessoa afetada. A Braskem lucrou exorbitantemente com o valor que estabeleceu para dano moral para os moradores, sem falar nos que tinham negócios que não receberam nada de Dano Moral mesmo tendo suas empresas quebradas pela Braskem”, disse.

Neste mês de outubro, a Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL) criou um canal para ouvir todos os cidadãos que aceitaram o baixo valor da indenização por danos morais proposta pela mineradora Braskem. O órgão está considerando baixo valor quem recebeu menos de R$ 40 mil de indenização por danos morais.

Os relatos podem ser enviados para o endereço eletrônico revisaodpeal@gmail.com , explicando o caso e os motivos que os levaram a aceitar a indenização. As informações servirão para possíveis pedidos de revisão do valor pago pela Braskem.
Segundo Nunes, a ação da Defensoria Pública é extremamente necessária, pois há muito tempo que as vítimas vêm questionando os valores irrisórios que foram fixados para indenização.

Pesquisa da Ufal vai mostrar formas de adoecimento

Uma pesquisa que está sendo realizada pela professora Verônica Alves, do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), pela mestranda Priscilla Souza e pelo bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) Matheus Melo quer descobrir o adoecimento mental das pessoas vítimas da instabilidade do solo.

De acordo com a professora Verônica Alves, a pesquisa foi motivada pelas entrevistas, reportagens, manifestações dos populares da região por meio de atos públicos e pelas mensagens que eram deixadas pelos próprios moradores em suas residências, ao terem que abandonar seus lares.

“Percebemos que isso levantava indícios de que esse evento poderia estar afetando a saúde mental desta população. Muito se fala sobre as perdas materiais e financeiras, mas pouco se fala sobre o sofrimento mental causado pela realocação dos moradores”, afirmou.

A professora afirma ainda que os dados apontam que os moradores acreditam que houve uma piora na saúde mental, após o afundamento do solo em seus bairros. “Houve um importante aumento do número de indivíduos que passaram a fazer acompanhamento psicológico/psiquiátrico. Outro dado que nos chamou a atenção foi o número de casos de pessoas que alegaram ter apresentado ideação suicida, após a ocorrência desse evento em seus bairros”, disse.

Segundo Alves, o artigo está sendo finalizado e deve ficar pronto na próxima semana.

Por Tribuna Independente

Foto: Edilson Omena