Os moradores da região dos Flexais relataram que deste a quinta-feira da semana passada que circulam informações sobre o abalo do solo no canteiro de obras e operações da Braskem, entre os bairros do Mutange e Bebedouro, em Maceió. A situação teria se agravado no domingo, quando surgiram novo relatos sobre o afundamento do solo no local da sonda, onde a mineradora realiza o tamponamento de uma das 36 minas de sal-gema desativadas por decisão judicial.

“É verdade, desde domingo que os operários estão sem trabalhar. Houve um abalo entre a antiga Casa de Saúde José Lopes e o Campo do CSA, o terreno baixou quando os trabalhadores estavam perfurando lá, com uma sonda, mas só chegaram a 600 metros de profundidade, mas danificou a mina e deu e erosão. Por isso, interditaram tudo”, afirmou um dos operários, em áudio distribuído pelos integrantes do Movimento SOS Flexal.

Outro operário, também em áudio distribuindo com a imprensa pelos moradores dos Flexais, não só confirmou o abalo do solo como denunciou o risco que os trabalhadores estão expostos, operando no tamponamento das minas de sal-gema da Braskem. “Prova disso, que os trabalhadores (ontem pela manhã) receberam um alerta e se dirigiram para o ponto de encontro, onde ficaram esperando instruções, do lado de fora da empresa”, acrescentou o operário.

Segundo ele, foi quando a Defesa Civil Municipal entrou no canteiro de obras e operações da Braskem e interditou o local das sondas. “Para se ter uma ideia da gravidade do problema, uma das sondas, que chega a perfurar até 2 mil metros, quando chegou a profundidade de 600 metros, já pararam e começaram a concretar tudo, porque havia danificado um lado da mina e o terreno começou a ceder. A situação é séria. Só Jesus na causa. Nós estamos trabalhando como se fosse num campo minado, na Faixa de Gaza”, acrescentou.

Os relatos dos operários e dos moradores dos Flexais foram encaminhados à assessoria de comunicação da Braskem, que ficou de responder sobre a veracidade ou não das denúncias, que vão além dos abalos sísmicos detectados pela Defesa Civil Municipal, na segunda-feira. A reportagem da Tribuna perguntou sobre o afundamento do solo e sobre a possiblidade de desmoronamento de uma das cavernas subterrâneas deixadas pela mineração. De acordo com os trabalhadores, o terreno sofreu um abalo, cedeu com o peso dos equipamentos, no local onde uma das minas estaria sendo tamponada com areia.

“A operação de fechamento das minas, realizada pela Braskem, é uma das mais perigosas, pois enquanto moradores e comerciantes foram obrigados a sair das áreas de risco, para preservar as vidas, os trabalhadores que estão injetando areia nas minas, nessa operação de tamponamento das crateras, estão exatamente em cima de onde pode acontecer o desabamento”, afirmou Alexandre Sampaio. Ele é uma das vítimas da mineração e representa a Associação dos Empreendedores do Pinheiro e demais bairros atingidos pelo afundamento do solo em Maceió.

Defesa Civil admite ligação de atividades a tremores

Em nota encaminhada à imprensa, na tarde de ontem, a Defesa Civil Municipal confirmou os tremores de terra, mas disse que os abalos sísmicos, registrados pelos sismógrafos do órgão, foram de pequenas proporções. Mesmo assim, solicitou que a Braskem “repassasse os dados a respeito de sondagens nos locais atingidos, já que os eventos podem estar associados ao preenchimento das minas de sal-gema”.

Veja, a seguir, a íntegra da nota:

“A Defesa Civil informa que registrou dois eventos sismológicos na área evacuada do bairro do Mutange na segunda-feira (6). O primeiro (11h58) com magnitude local de 1.15 e o segundo (13h44) com magnitude local de 1.38. São magnitudes consideradas baixas, que não tem potencial de causar danos à superfície ou serem sentidas pela população, só sendo identificadas pelos equipamentos de monitoramento.

Devido a movimentação de solo, a região está suscetível a eventos sísmicos dessa natureza. O órgão atua no monitoramento 24h por dia, acionou seus protocolos e as operações próximas às áreas foram paralisadas preventivamente. Determinamos ainda que a Braskem repasse dados a respeito de sondagens nos locais atingidos, já que os eventos podem estar associados ao preenchimento das minas de sal-gema”.

Não é a primeira vez que Defesa Civil de Maceió determina a suspensão do tamponamento das minas de sal-gema, após denúncia de abalo do solo. Em novembro de 2021, o órgão determinou a interrupção dos trabalhos de fechamento de um dos poços de extração de sal-gema, a aproximadamente 700 metros de profundidade no bairro do Mutange.

Versão da Braskem

A Braskem, em nota, nega que houve afundamento do solo no local de tamponamento das minas, mas confirmou os abalos sísmicos registrados pelos sismógrafos da Defesa Civil Municipal, na segunda-feira.

“Em relação aos áudios anônimos enviados pela Tribuna Independente, a Braskem esclarece que não é verdade que houve rebaixamento de solo, os funcionários não paralisaram as atividades no domingo, 5-11-2023, nem houve qualquer orientação para que eles se dirigissem a ponto de encontro.

Sobre o vídeo enviado pelo repórter, o conteúdo não tem qualquer relação com os eventos microssísmicos. Diz respeito a nivelamento superficial do solo para o melhor posicionamento de uma sonda”.

Por Ricardo Rodrigues – colaborador / Tribuna Independente

Foto: Edilson Omena