Uma imagem que mostra um ambulante em meio ao “esquenta” do carnaval carioca oferecendo uma versão “turbinada” do flau (ou geladinho) original, que promete uma experiência psicodélica, viralizou nas redes. O saquinho do típico sorvete preparado dentro de pequenos sacos plásticos vem com uma “bala” – nome popular para o MDMA.

O MDMA é uma droga psicoestimulante que age sobre o sistema nervoso. A Delegacia de Repressão aos Entorpecentes abriu uma investigação para apurar a suposta venda do produto, apelidado de “sacolé com bala”, em ensaios de blocos de carnaval do Rio.

Especialistas alertam que o perigo de uso da droga, somado às circunstâncias do carnaval, como o calor, risco de desidratação e consumo de bebidas alcoólicas, pode tornar a experiência letal por conta de AVC e infarto.

Esse tipo de droga, misturada com álcool, desidratação, pouca alimentação e calor muito forte, tem os efeitos aumentados. Uma aceleração cardíaca que a droga causaria, nessas condições, viram um infarto. É uma aventura que pode terminar em morte.— Felix Bauab, médico neurologista
O que acontece no cérebro sob o efeito da droga

O MDMA é uma droga psicoestimulante que age sobre o sistema nervoso autônomo – que é como se fosse o nosso “controle central”, regulando a pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura corporal.

Durante a ação da droga, o corpo aumenta a produção de adrenalina e noradrenalina, dois hormônios estimulantes. É a união dos dois que causa efeitos como aumento da energia, da autoconfiança e da capacidade de respostas.

Segundo o neurologista Felix Bauab, especialista em neurociência do hospital Sírio Libanês, a pessoa sob o efeito da droga sente como se tivesse “superpoderes”, o que pode ser arriscado.

“A pessoa fica destemida, com coragem de enfrentar riscos, e pode se colocar em situações perigosas. Só isso, em meio ao carnaval, já é um risco. Mas, como o corpo fica quando essa reação química acontece, é um risco aumentado em meio ao calor, aglomeração e desidratação”, explica.
O risco dos efeitos no corpo

O efeito da droga acontece por uma reação química. No corpo, isso se reflete em um desequilíbrio das funções vitais, como o aumento da pressão arterial e da temperatura corporal.

A elevação da pressão sanguínea pode resultar em arritmia cardíaca, aumentando o risco de infarto.
A contração das artérias do cérebro ou a própria arritmia, dependendo da gravidade, pode levar a um AVC.
No caso da temperatura, é importante diferenciar de febre – que é quando nosso corpo reage a uma causa externa (infecção). Nesses casos, segundo o especialista, o aumento não é tão rápido quanto o efeito da droga, que pode elevar a temperatura corporal acima dos 40°C.

Imagina isso desidratado e em um ambiente já quente? As coisas ficam muito maximizadas no efeito e, com isso, as consequências podem ser letais. É importante que as pessoas saibam do risco antes de se exporem a isso.— Felix Bauab, neurologista especialista em neurociência do hospital Sírio Libanês

Outra consequência é a hiponatremia. Segundo o Guia de Doenças e Sintomas do Hospital Albert Einstein, a hiponatremia é uma alteração metabólica caracterizada pela baixa concentração de sódio no sangue em relação ao volume de água no organismo.

Isso pode acontecer porque, além da adrenalina e noradrenalina, o corpo vai liberar ocitocina – o hormônio do amor. A ocitocina tem uma ação antidiurética, agindo sobre o equilíbrio da água e sódio no corpo.

Quando há uma quantidade de hormônio acima dos níveis naturais, o corpo acumula água e isso faz com que o sódio no sangue fique baixo, causando uma intoxicação por água.

Se a pessoa estiver no sol, sob efeito de drogas, numa aglomeração e, ao sentir um mal estar, beber água, o processo de intoxicação poderá ser acelerado.

A droga é ilegal e, por isso, não há qualquer controle de quantidade de substância. Com isso, não há como definir a proporção do risco. A recomendação é de que as pessoas não tomem isso porque pode mesmo ser letal.

Redação g1 \ GAZETAWEB

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