As cenas de ruas e avenidas de Maceió inundadas pelas águas da chuva ocupam os veículos de comunicação e as redes sociais, com denúncias, reclamações e desespero de motoristas e moradores em todas as regiões da cidade. Até agora foi pouca chuva e muito estrago, considerando que estamos apenas no começo da chamada “quadra chuvosa”, entre abril e agosto.

A Prefeitura de Maceió não pode normalizar os problemas causados por qualquer volume de chuvas, tratando questões de infraestrutura urbana como “desastres naturais”. A natureza não é culpada pela falta de compromisso dos gestores públicos.

A prefeitura também precisa reconhecer publicamente que os alagamentos frequentes nesse período chuvoso também significa ausência de planejamento urbano e atualização do Plano Diretor, defasado há quase uma década e, por isso mesmo, sem qualquer aplicação prática para a população.

As pessoas continuam sofrendo de forma recorrente com a água acumulada nas vias públicas, causando transtornos como engarrafamentos, casas alagadas e comércios prejudicados, além de riscos à saúde e à segurança. A ocupação irregular de encostas e a falta de fiscalização em morros e grotas complicam ainda mais o cenário à medida que nos aproximamos do inverno.

A equação é simples: os efeitos desastrosos das chuvas intensas em um curto período de tempo tão características das zonas litorâneas estão associados à falta de drenagem urbana eficiente. Sem capacidade de escoar grandes volumes de água, as vias públicas sofrem com os alagamentos, agravados ainda com a falta de manutenção dos bueiros, bocas de lobo e galerias pluviais.

Tenho conversado com alguns especialistas que explicam que Maceió é uma cidade que possui áreas planas e outras em declive acentuado e isso explica por que a água que escorre pelas encostas se acumula com facilidade em muitos pontos. A ocupação irregular do solo, a rede de drenagem insuficiente e mal conservada, além do lixo acumulado e da redução da cobertura vegetal são fatores que diminuem a capacidade de absorção da água, aumentando o volume que alaga as ruas.

A população tem todos os motivos do mundo para cobrar um posicionamento da prefeitura, que investe maciçamente em marketing e grandes eventos e esquece de fazer o dever de casa em questões essenciais como a infraestrutura. Não adianta apenas limpar canais e bueiros na quadra chuvosa. É preciso planejar, fiscalizar e implementar ações mais efetivas e permanentes para solucionar o problema.

Eu não quero aqui apenas apontar os desastres, quero propor soluções que passam, necessariamente, pelo esforço conjunto dos poderes públicos e da sociedade civil. É preciso ampliar e modernizar a rede de drenagem pluvial, com instalação de bombas e adoção de tecnologias de ponta que otimizem o escoamento da água.

O município precisa implementar políticas públicas de gestão urbana, regras que promovam uma ocupação ordenada do solo, com foco na sustentabilidade e na educação ambiental. A nossa capital é um dos destinos turísticos mais procurados por brasileiros e estrangeiros. A prefeitura tem a responsabilidade de zelar pela cidade que é um patrimônio da população e de todos que nos visitam.

É preciso lutar por um planejamento urbano sustentável que só será possível também com a atualização do Plano Diretor, instrumento fundamental para promover o desenvolvimento orientado da capital alagoana. Nossa cidade não possui diretrizes claras sobre o ordenamento territorial, que resulta em ocupações irregulares, proliferação de áreas de risco e descontrole da expansão urbana.

Só com o cumprimento de um Plano Diretor eficiente poderemos conter os impactos socioambientais negativos, que já são tão presentes na nossa capital, como ruas sem pavimentação adequada, ausência de áreas verdes e degradação ambiental em vários níveis. Para evitar os alagamentos constantes e combater as inundações que atrapalham a vida das pessoas precisamos de planejamento mas, sobretudo, de boa vontade.

CADA MINUTO

FOTO: GOOGLE