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Entidades sindicais querem que a tarifa de transporte público de Maceió passe dos atuais R$ 3,65 para R$ 3,15. O percentual de 13,7% de redução corresponde ao mesmo valor pedido pelas empresas para o reajuste.  Segundo o movimento, um abaixo-assinado deverá ser protocolado na Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) ainda esta semana.

O posicionamento vem após uma reunião realizada no fim da semana passada que discutiu quais ações seriam adotadas para tentar “barrar” o aumento proposto pelo Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Sinturb). O representante da mobilização e membro da comissão executiva da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), Magno Francisco da Silva afirma que o pedido de diminuição é “uma forma de fazer justiça”.

“É uma forma de fazer justiça. Os empresários do transporte já tiveram reajuste em fevereiro, de 3,50 para 3,65. Vamos propor uma redução 13,7%. Vamos protocolar e aguardar a reunião para definir as novas ações. O conselho precisará analisar o pedido dos empresários e da sociedade civil. Estamos coletando assinaturas das entidades sindicais, associações de moradores, entidades estudantis para assinar em conjunto o ofício”, diz.

No último dia 17, o Sinturb divulgou a proposta de reajuste. Caso aprovada, a tarifa passaria a custar R$ 4,15 a partir do ano que vem. Como justificativas, os empresários apresentaram a perda de passageiros e o alto custo do diesel.

No entanto, na avaliação de Magno Francisco, o aumento prejudicaria ainda mais o serviço, porque obrigaria os passageiros a procurar outras formas de locomoção.

“As justificativas [das empresas] são pífias. Se o valor da tarifa aumentar, as pessoas vão procurar ainda mais o transporte alternativo. Com relação ao valor do diesel, há uma política federal de redução de impostos para que o diesel tenham o preço controlado e fique mais barato. É preciso também levar em conta que o transporte é de péssima qualidade. As pessoas passam horas nos pontos de ônibus, os mesmos são quase sempre superlotados” pontua.

Ainda de acordo com o ativista, problemas como a alta taxa de desemprego tornam um possível aumento de tarifa, insustentável para  a população.

“Os trabalhadores de Maceió estão entre os que mais sofrem com os efeitos da crise econômica que passa o país. Os dados são alarmantes: 800 mil pessoas vivem abaixo da linha da pobreza em Alagoas, o estado possui a segunda menor média salarial do país e a  segunda maior taxa de desempregados do Brasil, chegando a 17,3%.  Em Maceió, segundo o IBGE, aproximadamente 40% da população vive com até metade de um salário mínimo. Como essas pessoas vão procurar emprego com uma tarifa de transporte abusiva como essa que temos? A proposta dos empresários é a expressão da ganância. Na prática, querem prejudicar ainda mais a vida da população”, critica.

Usuários reclamam da qualidade do transporte e reprovam reajuste

Nas ruas, passageiros já se queixam de um possível aumento. Para  a cozinheira Maria Margarete, de 59 anos, a proposta é um “absurdo”.

“Todo dia são dois ônibus pra lá e pra cá. De domingo a domingo, feriado e tudo, pegando ônibus. Para mim isso é um absurdo. Já tá caro o preço que tá e ainda vai aumentar? Não existe, é um absurdo”.

Luciene Silva é autônoma e diz que a passagem de ônibus pesa na hora de fechar as contas do mês.

“Vai ter aumento é? Isso tem que diminuir e não aumentar. Eu sou autônoma e tiro do meu próprio bolso, não tem desconto nenhum. Então para mim fica muito pesado. Agora já é ruim, pra você ter uma ideia só hoje peguei quatro ônibus, estou indo pegar o quinto. Imagina se aumentar”, reclama.

Quem também não aprovou a ideia foi Eloísa Silva de 23 anos. Ela reclama da insegurança nos coletivos e conta que já presenciou assaltos. “Como vai aumentar se não temos segurança? Para pegar um ônibus é um sacrifício e quando pega não tem segurança. Vai pagar R$ 4 reais para quê? Os ônibus vêm cheios, você corre o risco de ser assalto, vai em pé. Já presenciei assalto dentro do ônibus, no ponto”, diz.

REUNIÃO

As discussões sobre o possível reajuste só devem começar no ano que vem, mas ainda sem data definida. A data-base para a mudança na tarifa é no mês de janeiro. Este ano, por exemplo, a discussão seguiu até fevereiro. Segundo o Sinturb, a reunião do Conselho Municipal de Transportes ainda não foi definida. A entidade que representa os empresários diz que aguarda definição da SMTT. Procurada, a superintendência afirmou que ainda não há previsão para a realização da reunião.

Na semana passada, o representante da Câmara Municipal de Maceió (CMM) no Conselho, vereador José Márcio Filho reclamou da proposta de reajuste.

“As empresas não cumprem a parte dela. O transporte coletivo de Maceió é cada dia pior. Não foram retiradas as catracas, os ônibus não têm ar condicionado, não possuem wi fi, frota deficitária. Falam que a licitação prevê os aumentos para equilíbrio do sistema, mas pensam apenas em lucro. Porque o transporte público na  opinião da maioria da população e na unanimidade da câmara não se vê qualquer melhora. Todas as ações que a câmara tem feito buscando melhoria o que se faz [empresas] é procurar o judiciário para intervir. Quando as empresas deveriam acatar essas sugestões de imediato. Só vão conseguir trazer os passageiros de volta pra o sistema quando o transporte tiver qualidade”, opina o vereador

Ele afirma que a Câmara irá trabalhar para barrar o possível reajuste. “Vamos buscar meios… não tenho dúvidas… quem sabe uma audiência pública, mobilização da sociedade civil… entre outros, para que esse aumento absurdo não seja aprovado. Tenho confiança que o conselho não irá aprovar e nem o prefeito Rui Palmeira vai concordar com esse aumento”, defende.

Fonte: Tribuna Independente