O assunto é polêmico. Todo início de ano é a mesma coisa: o reajuste na tarifa do transporte público maceioense rende muita pauta. Em nível nacional, inclusive, o assunto foi combustão para as maiores manifestações das últimas décadas: em 2013, – a “Revolta do Busão”, também conhecida como a “Revolta do Vinagre”, títulos que evidenciam o turbulento e revoltoso protesto. Hoje, já nos livros de história, os atos são apontados como momentos de empoderamento popular contra as decisões de empresários e governos das maiores cidades brasileiras.

O possível reajuste das passagens já inflamam as organizações e movimentos sociais, contrários ao aumento. Entidades estão se unindo e se manifestam favoráveis à redução da passagem para R$ 3,15 e estão brigando contra o reajuste.

Anualmente, de acordo com o edital de licitação dos coletivos de Maceió, deve haver o reajuste no valor da tarifação, no entanto, ele pode ser para mais ou para menos. Para este ano, assim como nos anos anteriores, os empresários pedem pelo aumento. Os donos das empresas de transporte coletivo solicitam que o reajuste seja de 13,7% em cima do atual valor que é de R$ 3,65, passando a ser R$ 4,15.

Como justificativa para a solicitação do reajuste, os empresários alegam que uma menor porcentagem diz respeito à possibilidade de aumento previsto no contrato da licitação e a maior parte leva em consideração a perda de passageiros para integração temporal e a concorrência desleal do transporte clandestino.

Representantes de entidades sociais protocolam pedido de diminuição no valor da passagem de ônibus, durante a manhã do dia 3 de janeiro, na SMTT  representantes de 33 entidades – a maioria delas estudantis – estiveram na sede da SMTT [Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito], onde protocolaram uma solicitação de redução no valor das tarifas do transporte. E, como justificativa, apontaram os índices de vulnerabilidade social da população alagoana com base em dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística].

“Oitocentas mil pessoas vivem abaixo da linha da pobreza em Alagoas, o estado possui a segunda menor média salarial do país e a segunda maior taxa de desempregados do Brasil, chegando a 17,3%. Em Maceió, segundo o IBGE, aproximadamente 40% da população vive com até metade de um salário mínimo”, detalha o ofício.

No mesmo dia, representantes de outras organizações sociais, a exemplo da CUT [Central Única dos Trabalhadores] e Famecal [Federação das Associações de Moradores e Entidades Comunitária de Alagoas], participaram de um debate na Rádio Gazeta AM, onde também se opuseram ao aumento. Para a ocasião, foram convidados representantes da SMTT, da prefeitura e do Sinturb [Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Maceió], porém eles não apareceram.

Seguindo como oposição, as entidades que se uniram para a confecção do ofício e interessados na pauta devem se reunir em comitê na tarde do dia 8 de janeiro, no Espaço Cultural, em frente a Praça Sinimbu, para discutir quais serão os próximos passos a serem traçados em defesa da redução da passagem.

Já a Famecal, em entrevista à Gazetaweb, informou que, na manhã do dia 11 de janeiro, deve realizar uma manifestação na porta da SMTT com a população contrária o aumento.

A pedido da Gazetaweb, Magno Francisco, professor de filosofia da Ufal [Universidade Federal de Alagoas] analisou a situação deste possível aumento relembrando que é o mesmo motivo que desencadeou as manifestações de 2013.

“As mobilizações de 2013 começaram com a pauta da redução das tarifas e desencadeou um dos maiores movimentos de massa do país. Participei de maneira bastante intensa daquele processo que nós chamamos de ‘Jornadas de Junho’. Acho que a mobilização ganhou aquela dimensão por conta dos efeitos severos que a retomada da crise econômica provocava. Portanto foi o estopim para a revolta diante de uma situação que já era na sua totalidade muito difícil para os trabalhadores. No caso do aumento do valor das tarifas de ônibus, essa é uma situação que interfere diretamente na vida do povo. É uma questão de direito da cidade, mas também de sobrevivência. Quem vai trabalhar, quem vai procurar emprego, quem vai estudar, precisa tomar ônibus diariamente. Então, se a passagem aumenta, é menos comida em casa. Numa situação de crise, os efeitos são mais sentidos. Como se sabe, os donos do poder econômico também são donos do poder político, sendo assim, jogam sobre os trabalhadores os efeitos da crise, com o objetivo de garantir a ampliação dos seus lucros mesmo com as dificuldades econômicas sentidas pelo povo”, aponta o professor.

Para Magno, a crise atual é ainda pior. Ele, representando a Unidade Popular, afirmou que seguirá mobilizado. “O que queremos é transporte público de qualidade e vida digna para os trabalhadores. O luxo dos empresários não pode ser derivado do sofrimento do povo”.

Câmara de Vereadores

O vereador José Marcio, representante da Câmara dos Vereadores no Comissão do Transporte Público informou ser contrário ao aumento da passagem e justifica.

“Houve uma licitação do transporte público que definiu vários compromissos que as empresas deveriam seguir, como melhor investimento em frota e qualidade de serviço. Ao ver da câmara dos vereadores, acredito que de forma unânime, não houve melhora, só piora. As empresas não cumpriram com o compromisso. Colocaram aquelas catracas, que são um absurdo, parecem prisão; ônibus lotado que parece um pau-de-arara, as pessoas ficam praticamente com a cabeça para fora, um absurdo! Então não vemos nenhuma justificativa plausível para esse aumento”, disse o vereador José Marcio.

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