“Rezo todos os dias para Deus me conceder a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar e a coragem de mudar as que posso”, diz Rose Namajunas, com seus olhos verde- água e o cabelo raspado. Tão pequenina e magra, com apenas 1,65m e 52kg, a lutadora de 26 anos parece uma adolescente. Usa casaco esportivo, calça jeans e tênis para se sentir mais confortável e, por alguns segundos, mira fixamente o nada, dando a impressão de estar isolada do mundo.

Por trás desta mulher quieta e tímida, há uma grande campeã da vida e dos octógonos. Nascida na Lituânia e criada em uma fazenda, Rose Namajunas migrou com menos de 5 anos para Wisconsin, nos EUA, com toda a família. Campeã do peso-palha (52,27 kg) do UFC, ela foi vítima de abuso sexual na infância e superou a morte do pai, que era esquizofrênico, aos 16. No próximo sábado, dia 11, defende o cinturão contra a brasileira Jéssica Andrade, no UFC 237, na Barra da Tijuca.

ose não entra em detalhes sobre a violência que sofreu, mas não se cansa de repetir que a luta “salvou a sua vida”. Aos 9 anos, tornou-se faixa preta no taekwondo e entrou no karatê. Já adolescente, descobriu o kickboxing e o wrestling, e chegou à arte marcial que mais admira: o jiu-jítsu.

“Às vezes, volto ao passado e fico triste e deprimida. Então, olho o presente e vejo que é incrível”

A cada golpe nos treinos, a atleta se desvencilhava da solidão, da preocupação de não poder ter uma vida comum com o pai e do maior trauma da infância. O abuso a fez ela criar medos e demônios, vencidos com dedicação e força de vontade.

— Você vive um dia de cada vez. Às vezes, volto ao passado e fico triste e deprimida. Então, olho o presente e vejo que é incrível — diz.

arma para a superação foi o esporte, além de um espírito forte. Também é preciso estar mental e fisicamente sob controle. As artes marciais a ajudaram a criar coragem para a luta. Rose usa a sua história para incentivar outras mulheres que sofreram qualquer tipo de violência:

— As artes marciais realmente ajudam, e você sabe que isso lhe dá coragem para revidar. Não importa quais obstáculos estão no seu caminho. O esporte de luta é a melhor opção a se fazer.

PIANISTA APAIXONADA POR CHOPIN

A serenidade atual não era vista com frequência na campeã, que criou uma casca protetora. Seu nome de guerra no UFC é “Thug Rose” (Rose “Bandida”), apelido dado por amigos quando ela era jovem por causa de sua carranca intimidadora. A cara de menina má ainda permanece, mas pequenos sorrisos são arrancados quando ela relembra os momentos do pai

“As artes marciais realmente ajudam, e você sabe que isso lhe dá coragem para revidar

Foi na pintura que ele deixou aflorar seus sentimentos e expressou tudo que não conseguia dizer por causa da doença. Rose tem em casa um quadro feito pelo seu artista preferido, para o qual olha todos os dias e que a ajuda lembrar cada momento que teve a chance de viver ao seu lado.