O senador Renan Calheiros (MDB) passou um tempo distante dos holofotes depois que não conseguiu retornar à presidência do Senado Federal. O “marco” do silêncio foi uma postagem desrespeitosa contra a jornalista Dora Kramer.

O silêncio se deu do 1° de fevereiro ao dia 13 de março, dando fim ao emedebista “apaziguador”, que mesmo tendo sido tão crítico às reformas propostas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) buscava alguma aproximação com o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL).

A busca por aproximação por parte de Renan Calheiros – ainda em janeiro desse ano – rendeu matérias na imprensa. Em uma delas, na Folha de São Paulo, a manchete é “Renan tenta se alinhar a Bolsonaro para voltar a presidir o Senado”. Na reportagem, há declarações interessantes do senador alagoano.

Ao ser indagado pelo jornal, Calheiros diz que “o sentimento do MDB é ajudar o governo a fazer as mudanças de que o país precisa. Eu só posso se produto da indicação da minha bancada e se concordar com isso”. As tais mudanças – que eram propostas de Jair Bolsonaro durante a campanha – eram conhecidas. Dentre elas, a reforma da Previdência, a Tributária, a flexibilização do porte e posse de armas, dentre outras.

O governo federal atual não escondeu sua linha de raciocínio durante a campanha. É possível ser contrário a ela, como foram os que não votaram em Bolsonaro, ou ser favorável. É da democracia. Democracia esta que leva ao poder quem consegue mais votos.

Todavia, Renan Calheiros não se limitou aos discursos mais genéricos. Aliviou a barra para as pautas mais liberais, tanto que se tornou famoso o vídeo em que ele fala do “diálogo” entre o “velho Renan” e o “novo Renan”. Lembram disso? O vídeo indicava uma guinada liberal do senador que – naquele momento – sonhava com a cadeira da presidência do Senado Federal, ainda que não se assumisse candidato, mas escolha da bancada.

Nessa película histórica da política recente, Calheiros pontua: “Você conhecia o velho Renan. O novo vai discordar do outro em muita coisa.

Sobre a Previdência, o velho Renan já declarou isso aqui: “O grande problema dessa Reforma da Previdência é que o Michel (Temer), o presidente quer impor aos brasileiros a perda de direitos que o Michel cidadão usufrui, sem constrangimentos”. O novo Renan disse o seguinte: “É fundamental que a Reforma da Previdência combata os privilégios e aproxime os sistemas. Além de atualizar a idade, acho que a reforma da aposentadoria dos militares pode ser separada”.

Renan Calheiros também falou sobre privatizações nos velhos momentos: “Não tem muito sentido que o Senado de uma forma ou de outra colabore com isso…por que autorizar esse governo a se desfazer do patrimônio público na bacia das almas?”. Já em janeiro de 2019, Renan Calheiros falou isso aqui: “O velho Renan era estatizante; o novo é liberal”.

Na matéria da Folha – aqui já citada – Renan Calheiros afirma ainda que a sociedade mudou e por isso leis precisam se atualizar, logo ajudaria na pauta de costumes de Bolsonaro.

Como todos sabem, o novo Renan Calheiros não vingou. O processo turbulento para a eleição da presidência do Senado Federal jogou de vez o emedebista para a oposição. Claro, muitas outras convicções de Calheiros seguiam as mesmas, como contrário a revisão do Estatuto do Desarmamento, por exemplo. Então, embates nesse campo não serão novidades, assim como não eram.

Todavia, aquele Renan Calheiros que buscava ser calmo diante do governo voltou com força às redes sociais como opositor ferrenho. O emedebista chega a dizer que o país parece estar “bêbado”, evocando para si – por consequência – a postura da sobriedade.

Agora, essa sobriedade toda de Calheiros era mais moderada quando nos governos petistas tivemos um verdadeiro assalto aos cofres públicos, os planos do Foro de São Paulo, o aparelhamento das instituições, a política da entrega de cargos em busca dos apoios políticos, ou quando – em momento decisivo como o impeachment – Renan Calheiros subiu no muro para depois, durante a sessão no Senado, ajudar a preservar os direitos políticos de Dilma Rousseff (PT), apesar da Constituição.

Entre o velho e o novo Renan Calheiros, Renan Calheiros sempre escolhe ser Renan Calheiros… Afinal, a obsolescência de suas convicções, ou renovações destas, estão consignadas às reflexões internas que sofrem pressões externas dos caminhos que ele quer traçar…

Por exemplo, chegar a presidência do Senado, talvez tivesse rejuvenescido Renan Calheiros. Mas, acabar no baixo clero o fez voltar a ser velho.

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