O tradicional bordado de filé, trabalho artesanal inspirado no trançado das redes de pescadores e declarado Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas, produzidos pelas artesãs e artesãos do Bairro Pontal da Barra, já são bastante conhecidos, até mundialmente, em peças como toalhas, colchas, cortinas e roupas. No entanto, com a pandemia do Covid-19, as lojas de artesanato do bairro foram fechadas, afetando a economia da região e sustento de muitas famílias.

Como alternativa, muitas artesãs passaram a confeccionar máscaras da renda filé para enfrentar a crise. O mesmo trabalho que os turistas e alagoanos conhecem em várias peças, agora está também nas máscaras, item recomendado pelos órgãos de saúde para toda população como uma ferramenta de prevenção contra o novo coronavírus. Segundo a presidente da Associação das Rendeiras do Pontal da Barra, Adriana Gomes dos Santos, são produzidos diariamente de 400 a 500 máscaras, por 33 artesãs que aderiram a confecção do produto.

“Neste momento, esse é único meio de renda que temos para nossa sobrevivência. Fizemos uma contabilidade, e o valor comercializado é de R$ 15. É um preço que dá para alcançar o cliente e garantir uma renda diária para cada uma nesse momento difícil. Cada artesã consegue vender de 12 a 15 máscaras por dia’’, disse Adriana, ressaltando que a procura está boa e agradecendo todo o apoio da imprensa na divulgação dos trabalhos das rendeiras.

A representante da associação explica que as máscaras seguem as recomendações dos órgãos de saúde. “Primeiro é feito o bordado filé – trabalho manual com linhas 100%. Em seguida se passa à modelagem do filé e depois o recorte no tecido 100% algodão. Todas são feitas com duas camadas de algodão. O bordado filé só para embelezar o produto. E concluímos com a higienização delas. São colocadas individualmente nas suas embalagens e fechadas’’.

Presidente da Associação das Artesãs do Pontal da Barra (Foto: Edilson Omena)

ÚNICA FONTE DE RENDA

Thayse Oliveira de Lima, é uma das 33 artesãs do bairro que iniciaram a confecção de máscaras. Ela conta que no momento é de onde está tirando o sustento. “No momento essa é a única fonte de renda que tenho. Iniciei minha produção há uns 15 a 20 dias. Minha mãe já fazia máscaras de tecido aí surgiu a ideia de colocar o filé. Tendo em vista que o filé leva um tempinho a ser produzido porque é feito à mão. Se tiver renda pronta, consigo fazer umas 15 peças por dia. E a gente vende por R$ 15. Conseguimos vender cerca de 10 a 13 peças no dia’’, diz acrescentando que consegue faturar em média R$ 70 de lucro.

Quem também sobrevive exclusivamente da produção do artesanato e teve a renda familiar afetada por causa do novo coronavírus, foi Ingryd Carla Avelino de Oliveira, que viu na produção de máscara um meio de conseguir uma grana para manter as despesas de casa.

“Vivo do artesanato e nesse momento esse está sendo meu meio de sobrevivência. Iniciei o meu filé para confeccionar as máscaras no dia 20 de abril. Faço de 12 a 15 máscaras por dia. Como sou dona de casa, e tenho filho pequeno, minha produção é devagar. Todas as máscaras da associação dos artesãos estão sendo vendidas por R$ 15 a unidade. É um valor padrão. Consigo vender de 10 a 12 unidades por dia, e com isso obtenho entre R$ 150 a 180’’, explica Ingryd.

“Alternativa é uma maneira para tentar superar a crise’’

Para a economista Larissa Pinto, a venda dessas máscaras é uma alternativa para tentar superar a crise, uma vez que está gerando recursos financeiros para as rendeiras e costureiras locais.

‘’E o setor criativo é um dos que tem maior potencial para se reinventar, principalmente em momentos de crises. Os artesãos foram extremamente afetados com a pandemia da Covid-19 porque seus principais clientes, os turistas, deixaram de vir à Maceió e de consumir esses produtos alagoanos’’, pontua a economista.

Larissa lembra ainda que o Projeto Minha Máscara, da Prefeitura de Maceió, mapeou artesãos e costureiros cadastrados na Economia Solidária e disponibilizou para a população. ‘’É uma boa ideia para juntar oferta e demanda por esse item tão necessário nos dias de hoje. Mas claro que só a renda com a venda não é o suficiente. Por isso, o Auxílio Emergencial para os artesãos é tão importante”.

CAMPANHA

A presidente da Associação das Rendeiras, Adriana Gomes, disse que apenas as confecções de máscaras não são suficientes para garantir o sustento de todos os artesãos do bairro e que, por isso, está realizando campanhas de arrecadação de alimentos para distribuir cestas básicas as famílias. “Conseguimos, com a Braskem, 382 cestas básicas hoje [sexta-feira, 15], irei distribuir para essas famílias. No entanto, precisamos de mais, pois são cerca de 600 famílias que estão sobrevivendo desde do fechamentos de suas lojas com doações’’, conta Gomes.

Fonte: Tribuna Independente / Lucas França

(Foto: Edilson Omena)