O desespero em meio à falta de emprego aliado à necessidade de receber o auxílio emergencial continua sendo o maior motivo para aglomerações nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF) e lotéricas da capital e Grande Maceió. O problema que ainda persiste revela o impacto da crise, mas, ao mesmo tempo, expõe quem precisa do benefício e não tem outra fonte de renda. Entre vereadores, a situação é incômoda e preocupante, já que não está descartado o risco de contaminação com a Covid-19 nestes locais e entre os que estão na fila.

O vereador Luciano Marinho, que cumpre o isolamento social, disse que acompanha – com preocupação -, principalmente pelo fato de que os que estão mais expostos são os cidadãos mais pobres. Justamente os que mais precisam para sobreviver, mas que acabam se expondo à contaminação.

“Sabe-se da necessidade das pessoas, principalmente, agora, depois do auxílio emergencial. Mas, há de se levar em consideração que estamos no ápice de uma pandemia. E essa situação está acontecendo em todo o Brasil. A maioria vive essas aglomerações. No tocante a Alagoas e Maceió, que têm tido um número crescente de novos infectados, com pessoas sendo contaminadas diariamente”, observou Luciano.

Ele lembra que, mesmo com as unidades bancárias e loterias trabalhando para amenizar, é fácil encontrar o desrespeito. O próprio vereador confirmou que, durante uma breve saída, constatou a situação in loco. Luciano disse que viu a montagem de tendas e a colocação de grades, numa demonstração de que há um esforço para a adaptação.

“Mas isso não tem resolvido o problema. Talvez seja o caso de se buscar repassar o dinheiro para outras agências bancárias, inclusive, da rede privada, para diminuir as aglomerações. E isso tem provocado o sufoco e as aglomerações, contaminando e levando tantas vidas, além do sofrimento. Vejo isso com muita preocupação, e já passou da hora de se tomar providências”, disse Luciano.

Tecnologia

A tecnologia deveria ser a principal alternativa para evitar a movimentação nas unidades. Essa é a posição do vereador Galba Netto, que considera o uso de ferramentas digitais, como os aplicativos, a principal forma de evitar a quebra do isolamento e, principalmente, as aglomerações.

“Já existe suficiente tecnologia e meios para evitar isso com organização. Num momento em que já se sofreu tanto com tantas perdas reflexos da pandemia, justamente agora que estamos perto de uma solução, não justifica estarmos expondo a população. E, principalmente, o que está mais vulnerável, que só se expõe porque realmente precisa” destacou Galba.

Esperançoso com a descoberta de uma solução, ele lembrou que, das dez vacinas que estão em fase final de testes, pelo menos duas estão em testes com voluntários no Brasil.

“Não justifica agora, no desespero com medidas sem pensar da forma correta, abrir tudo e fazer que tenhamos contágio ainda maior. Todas as ações que o poder público possa fazer para os mais vulneráveis precisa ser feito. As pessoas que estão ali são as que têm mais dificuldade de manter o isolamento porque têm que escolher entre a sua dignidade e a sobrevivência da família, e ainda não ser contaminada. O poder público tem a obrigação de dar esse suporte para que possa esperar mais e, até mesmo, imunizar a nossa população e criar um ambiente seguro para o comércio e a economia”, declarou Galba.

Providências

Quando as primeiras filas ganharam destaque na mídia do país, o vereador Francisco Salles foi um dos que reagiu contra a situação. Além de denunciar no plenário, também encaminhou ofício para a Caixa pedindo providências, como a organização das filas, antes mesmo das tentativas do banco. Tanto em agências como nas casas lotéricas, os riscos de contaminação são altos.

“Estamos na contramão. Vejo as agências colocando muito mais em risco a vida das pessoas nesse momento de pandemia do que até os negócios que foram fechados. Temos como controlar as demandas de uma loja ou salão de beleza, mas a demanda de um banco e lotérica é bastante complicado”, disse Salles.

Como alternativa, propôs que, em ambos os casos, o ideal seria que os horários fossem alongados. No caso dos bancos, uma hora após o horário convencional ou começando mais cedo. Somente assim, na visão de Salles, seria possível distribuir melhor o fluxo e combater a aglomeração.

Na pele

Sobrevivente da Covid-19, o vereador Cléber Costa lembra que o problema é grave, pode matar, e que as aglomerações constituem um dos principais focos do problema. Mesmo quando esteve internado e já após sua alta médica, tem sido comum flagrar situações de risco explícito nos locais de atendimento.

“Um dos maiores riscos de contágio são as aglomerações de pessoas, muito vistas em loterias e agências bancárias, um problema que precisa de solução urgente. Acredito que dar condições necessárias para o atendimento ao público, de forma a resguardar sua saúde nesse momento, é de responsabilidade do estabelecimento, mas a fiscalização deve sim ser feita pelo Governo.

Na prática ele também encontrou ações de cuidado coletivo, coincidentemente, em uma agência no Jaraguá, onde, além do distanciamento as pessoas, estavam todas com máscara e com acesso farto a álcool em gel na entrada e saída da banco. O vereador reconheceu a necessidade de uma parcela da população estar em movimento, mas reafirmou a necessidade de que ocorra com base nos preceitos de higiene e proteção.

“Eu tive a doença e senti na pele que não é brincadeira e quem bem soubesse se resguardaria, ao máximo, para não passar pelo que passei. Claro que sabemos da nossa realidade, que, muitas vezes, somos obrigados a sair do isolamento para ganhar o pão de cada dia, nestes casos é preciso toda cautela possível”, defendeu Cléber.

Atalhos

Uma alternativa que não dispensa a tecnologia nem o atendimento presencial, mas poderia contribuir para o distanciamento, seria o recebimento em casa de cartões, ou até mesmo, o envio de alguns valores. Quem aponta essa saída é a vereadora Silvânia Barbosa, que lembrou também que o lucro dos bancos indica que não sairia caro emplacar ações que preservassem a vida das pessoas e, até mesmo, dos funcionários.

“Cabe à Caixa providenciar atalhos para facilitar a vida dos beneficiários. Em alguns países, os valores estão sendo enviados para as residências por meio de cheques ou por cartões magnéticos com senhas individuais que são desbloqueadas pelos beneficiários, por telefone e, para evitar fraudes, são os beneficiários que ligam para as agências, confirmam seus dados e recebem senhas intransferíveis”, sugeriu Silvânia.

A medida, inclusive, seria perfeita para as pessoas que não têm acesso aos celulares tipo smarthphone, que viabilizam acessos e operações on-line. O atendimento deveria ocorrer, quando necessário, de forma pulverizada em várias agências para evitar a busca apenas num local.

Por Marcos Rodrigues | Portal Gazetaweb.com

FOTO: Arquivo Pessoal