Duas escolas municipais, ambas no bairro do Jacintinho, em Maceió, irão receber 14 crianças indígenas da etnia indígena Warao, vindas da Venezuela. São elas: João XXIII e Eulina Alencar. A iniciativa foi uma articulação entre a Cáritas – organização não governamental da Igreja Católica, Fundação Nacional do Índio (Funai) em Alagoas e Secretaria Municipal de Educação (Semed).

De acordo com James Nogueira, voluntário da Cáritas Arquidiocesana de Maceió desde 2017, a ideia de os menores de idade serem acolhidos partiu de articulação na formação de grupos de trabalho específicos para atender esta demanda, ouvindo os imigrantes, conhecendo mais de perto sua cultura e hábitos para traçar um plano de acolhimento sócio-pedagógico mais adequado.

“Eles deixaram seu país de origem devido a grave crise humanitária e política que passa a Venezuela. Hoje vivem nos semáforos das grandes cidades pedindo ajuda para sobreviver. Esta tem sido a principal fonte de renda deles”, destaca o voluntário.

O repórter fotográfico da Tribuna Independente esteve no bairro do Jacintinho, onde os imigrantes estão abrigados e pôde ver de perto a realidade. Ele relatou que os venezuelanos estão vivendo em condições sub-humanas e precisando de tudo. “Dormem no chão, precisando urgentemente de doações, é muita pobreza…”, destaca Edilson Omena.

James Nogueira salienta que os venezuelanos têm baixa escolaridade e são, na maioria, pescadores e artesãos. “Por isso é difícil conseguir emprego”, frisa. “Estão, sim, passando necessidades. No último dia 16 nasceu mais uma integrante da família Warao, na maternidade Nossa Senhora da Guia, no bairro do Poço, em Maceió. Estão sobrevivendo do que arrecadam nos semáforos e das doações arrecadadas pela Cáritas e grupos da sociedade civil que colaboram eventualmente”, explicou James.

Ele ressaltou que desde 2018 começaram a chegar famílias de imigrantes venezuelanos no estado. “As primeiras eram famílias urbanas, com escolaridade e profissões definidas. Estes já estão integrados à sociedade maceioense. Inclusive, empreendendo economicamente. Há cerca de 10 famílias (30 pessoas) nessa situação”, pontuou.

Ainda, segundo o voluntário da Cáritas em Maceió, em março deste ano, chegaram os indígenas Warao, primeiramente cinco famílias, depois mais cinco, e hoje são 10 delas na capital, sendo 46 pessoas no total.

“Destes, 20 são adultos e os demais, crianças e adolescentes. A Funai tem sido uma das principais articuladoras de debates com o poder público sobre a situação dos Warao. Junto a Cáritas temos provocado reuniões com o MPF, MP/AL, DPU, PF, OAB, secretarias municipais e estaduais de saúde, educação e direitos humanos”, afirma Nogueira.

No último sábado (21), houve uma celebração na Paróquia da Imaculada Conceição, no Jacintinho, promovida pela Pastoral da Família da Arquidiocese de Maceió, em parceria com a Cáritas, onde foram entregues doações de alimentos, roupas, colchões e utensílios domésticos para os imigrantes venezuelanos.

A recém-nascida Marcelina, brasileira, filha dos venezuelanos da etnia Warao, também ganhou um carrinho de bebê e o enxoval.

Elizabete Andrade, coordenadora pedagógica da Escola de Ensino Fundamental Eulina de Alencar, diz que, quanto à acolhida, todos os profissionais da escola estão cientes.

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento desta edição não deu retorno.
Alagoas oferta 261 vagas para unidades indígenas em concurso

No próximo mês de outubro, serão realizadas as provas para o maior concurso da educação pública de Alagoas, com três mil vagas para professores de todas as disciplinas em todo o estado. Além do quantitativo de vagas, o concurso traz em si dois fatos inéditos: pela primeira vez, serão ofertadas vagas para a Educação Especial e para as escolas indígenas. No caso das unidades indígenas, são 261 vagas, das quais 141 apenas para os anos iniciais (1º ao 5º anos do ensino fundamental).

“Temos trabalhado muito pela valorização dos nossos servidores e esta é uma agenda prioritária do governador Renan Filho. Graças ao novo concurso público, que prevê 261 vagas para professores de escolas indígenas, vamos efetivar professores que já atuam há algum tempo em nossas unidades. Acredito e defendo que educação de qualidade só se faz com servidores competentes e valorizados”, afirma o secretário da Educação, Rafael Brito.

Os aprovados serão lotados nas 17 escolas indígenas da rede estadual distribuídas em cinco Gerências Regionais de Educação (Geres) e localizadas nos seguintes municípios: Palmeira dos Índios (3ª Gere); Feira Grande, São Sebastião e Traipu (5ª Gere); Porto Real do Colégio (9ª Gere); Pariconha e Inhapi (11ª Gere) e Joaquim Gomes (12ª Gere).

De acordo com o edital, o aprovado será lotado na escola para a qual se inscreveu e, se necessário, poderá fechar a carga horária de 30h em outra unidade da mesma Gere. Para assumir, ele também precisará estar munido de carta de anuência dos representantes da comunidade (Pajé e/ou Cacique).

Educadores de comunidades indígenas também comemoram essa iniciativa. “Esse concurso é uma oportunidade para jovens e professores indígenas. Na nossa escola, por exemplo, temos professor que trabalha lá há 20 anos e, agora chegou a vez dele e de outros entrarem na rede estadual via concurso e permanecerem na escola e comunidade”, observa Ana Lúcia Ferreira de Souza, diretora da Escola Indígena Itapó, de São Sebastião, e que oferece os anos finais do ensino fundamental a 74 alunos do povo karapotó. (Com assessoria)

Fonte: Tribuna Independente / Ana Paula Omena
(Foto: Edilson Omena)