Com o novo bloqueio de mais de R$ 1 bilhão nas verbas destinadas à educação superior do país, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) perde mais R$ 4,8 milhões do seu orçamento. Após o anúncio desse novo bloqueio, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (Adufal) e o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Alagoas (Sintufal) decidiram convocar uma assembleia geral para definir sobre a suspensão geral das atividades na universidade.

“Fomos informados através das redes sociais e imprensa que houve mais esse corte orçamentário e decidimos convocar uma assembleia para colocarmos em pauta a possibilidade de paralisação das atividades acadêmicas, por tempo indeterminado, até que esse corte seja suspenso. Na assembleia, aprovaremos também um calendário de atividades de mobilização ao longo da semana para denunciar todos os abusos cometidos pelo governo Bolsonaro em relação à área da educação”, disse o presidente da Adufal, professor Jailton Lira.

Um dos titulares da coordenação geral do Sintufal, José Marcos Gomes, considera a situação como muito perigosa para as universidades de todo o país.

“Está uma situação desagradável, nós já estamos com dívidas e temos que ter responsabilidade com essas dívidas. Já se diminuiu bolsas de estudantes, aí vem um corte desses. A tendência é cortar ainda mais coisas. Nós temos uma situação de não poder mexer como, por exemplo, em terceirizados. No setor que trabalho, lido com cinco residências universitárias, com cinco funcionários terceirizados que trabalham na manutenção dessas residências. Recentemente, um dos funcionários tirou férias e estamos, hoje, com quatro servidores para as cinco residências porque não tem mais uma reserva. A universidade não pode pagar esse tipo de serviço”, afirmou.

A assembleia geral conjunta acontece na próxima segunda-feira (10), de forma presencial, no auditório da Reitoria da Ufal, no Campus A.C. Simões, a partir das 9h.

“Universidade está em risco de desabastecimento”, afirma reitor

Segundo o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, a universidade apresenta sérios riscos de desabastecimento, não pagamento de empresas terceirizadas e suspensão de assistência estudantil, após o anúncio do novo contingenciamento no orçamento do Ministério da Educação (MEC).

“Estamos numa sinuca de bico. Tivemos um corte orçamentário de mais de R$ 8 milhões no mês de junho e, desta vez, estamos tendo um bloqueio orçamentário de quase R$ 5 milhões. Não é por conta deste novo bloqueio que a universidade está em risco, ela está em risco porque vem sendo sistematicamente retalhada com o orçamento da União”, afirmou Tonholo.

De acordo com o reitor da Ufal, o orçamento da universidade deste ano é bastante inferior ao de anos anteriores e, no próximo ano, o orçamento deve ser ainda menor, em virtude das dívidas de 2022 que ficarão para 2023.

“Em 2019, por exemplo, nosso orçamento era de R$ 168 milhões e caiu para algo em torno de R$ 97 milhões. E, com os cortes que aconteceram agora, cai ainda mais. Enquanto isso, a inflação comendo, as coisas ficaram mais caras por conta da Covid. Fizemos a revisão de absolutamente todos os contratos, estamos apertando bastante a fiscalização dos contratos que chamamos de continuados. No ano passado, inclusive, alguns contratos tiveram corte substancial como os de limpeza e segurança, que tiveram cortes superiores a 30% e, agora, chegamos num ponto que não tem mais onde cortar”, disse.

Corte do governo federal afeta também o Hospital Universitário

Em nota, o MEC afirmou que é enganosa a informação de que haverá prejuízo às universidades e institutos federais com a limitação temporária de empenho no orçamento. Em contrapartida, Tonholo disse que todos os empenhos e licitações devem ser cancelados por conta desse bloqueio.

“Esse bloqueio não é simplesmente deixar para dar no final do ano, ele implica em cancelamento de empenho que a gente já fez, em processo licitatório que já cumprimos. Então, é um retrabalho enorme e, enquanto isso, estamos impedidos de usar o dinheiro que tem disponível. Estamos fazendo das tripas coração para a universidade continuar funcionando. É um bloqueio como era o bloqueio de junho que virou corte, em dois lotes de 3,2%”, afirmou.

Tonholo ressaltou que, independentemente de troca no Governo Federal, o orçamento de 2023 já está comprometido, por causa das dívidas deste ano. “Ano que vem, vamos ter mudanças de equipes e isso implica em atraso na liberação do novo orçamento e aí a gente vai entrar numa estagnação total porque vai ter dívida para pagar e não vamos ter orçamento disponível para cumprir do ano de 2022, quanto mais de 2023”, disse.

Com o orçamento restrito, a Pró-reitoria de Gestão Institucional (Proginst) informou, na última quarta-feira (5), que não vai mais destinar recursos para reposição de profissionais de segurança e limpeza que precisarem se ausentar até dezembro.

O reitor da Ufal lembrou ainda que o Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) também deve ser afetado com o novo bloqueio. “O hospital universitário também usa dinheiro de custeio do MEC e, certamente, vai ter prejuízo no atendimento da nossa população e na qualidade de ensino do pessoal da área da saúde como enfermagem, medicina, nutrição e psicologia, que usa o hospital para se formar”, disse.

Por Luciana Beder com Tribuna Independente

Foto: Ascom/Ufal