Pescadores e marisqueiras do bairro Vergel do Lago, em Maceió, contestam o resultado das análises feitas pelo Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) para investigar as causas das mortandades de peixes na Laguna Mundaú. Para a presidente da Cooperativa de Trabalho das Marisqueiras de Maceió, Vanessa dos Santos, a mortandade está relacionada às atividades de mineração da Braskem.

“Acho que estão querendo acobertar a Braskem. Como é que teve aquela mortandade, uma seguida da outra, depois da questão da mina 18, aquele desabamento, e eles vêm dizer que não é da mina? E os próprios pescadores dizem que os peixes mortos vinham da região da mina. Quem acaba perdendo, como sempre, são os mais pobres. Nesse caso, os pescadores e marisqueiras”, afirmou Vanessa dos Santos.

Há mais de 20 anos vivendo da pesca na Lagoa Mundaú, o pescador Iberson Correia contou que nunca tinha presenciado uma cena como as registradas nos dias 31 de dezembro de 2023 e 10 de janeiro deste ano. “Mesmo com a poluição, antes não aparecia essa quantidade. Depois que aconteceu esse negócio da Braskem, começou a aparecer desse jeito. Foi muito peixe morto na lagoa. Não tinha nem como colocar a tarrafa por causa da quantidade de peixes mortos. Se colocasse, ia ser em cima dos peixes mortos, podres”, afirmou.

Para o pescador Dalton Costa, a Braskem também tem parcela de culpa na mortandade dos peixes. “A Braskem está acabando com a lagoa da gente. Depois que essa firma chegou aí, prejudicou total e ninguém resolveu nada, nem colônia, nem federação, nem nada”, disse.

Segundo as análises do IMA/AL, as recentes mortandades de peixes não estariam ligadas ao afundamento da mina-18 da Braskem , situada no bairro do Mutange.

Nota descarta relação com afundamento de mina

O Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) divulgou, nesta terça-feira (30), uma nota técnica sobre o resultado das análises feitas para investigar as causas das mortandades de peixes na Laguna Mundaú, verificadas nos dias 31 de dezembro de 2023 e no dia 10 de janeiro deste ano. De acordo com a nota, é possível afirmar que a mortandade não teve relação com o evento da mina 18 da Braskem, ocorrido no dia 10 de dezembro de 2023.

Para a equipe multidisciplinar do IMA que se debruçou sobre o resultado das análises, em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), as recentes mortandades de peixes estão ligadas ao nível elevado de degradação da laguna, constatado nas amostras analisadas, além de outras características preocupantes relacionadas a altas temperaturas, lançamento de efluente industriais e domésticos, drenagem urbana, presença de agroquímicos, resíduos químicos, a exemplo de derivados de combustíveis, e o acúmulo de matéria orgânica acentuada no leito da laguna.

Para chegar a essa conclusão, a partir do evento da mina 18, o IMA ampliou o monitoramento e fez 124 ensaios analíticos entre os dias 11 de dezembro de 2023 e 12 de janeiro de 2024. Os dados foram apresentados aos pesquisadores da Ufal e confrontados com dados históricos do próprio IMA e da literatura científica.

Acidente com trabalhador, investigado pelo MPT, teria ocorrido na área da mina 18, no Mutange (Foto: Edilson Omena)

MPT aguarda relatório da Braskem até sexta-feira

A Braskem deve entregar ao Ministério Público do Trabalho (MPT), até esta sexta-feira (2/2), um relatório detalhado com o registro de trabalhadores e de qualquer pessoa que teve acesso à área de resguardo das minas de sal-gema, em Maceió. Segundo o procurador do MPT Rodrigo Alencar, o órgão aguarda o recebimento da documentação para analisar quais medidas irá adotar.

A documentação foi solicitada após a denúncia de um suposto acidente de trabalho na área da Mina 18. O objetivo é identificar se houve acesso de trabalhadores nas áreas de risco após o dia 30 de dezembro de 2023, quando a Defesa Civil autorizou a retomada das atividades fora da área de resguardo.
Segundo o procurador, o relatório a ser apresentado pela Braskem terá que permitir a identificação da pessoa que teve acesso à área de resguardo, da empresa para a qual o empregado trabalha e os horários de acesso. O documento também deverá trazer todas as descrições do sistema de controle de acesso ao local.

TRIBUNA HOJE

Foto: Ascom IMA/AL