ara conter a contaminação pelo novo coronavírus (Covid-19), os consultórios odontológicos redobraram os cuidados. Aventais descartáveis, protetor facial e higienização do ambiente, estão entre as principais medidas adotadas em Alagoas, e em todo o Brasil para conter o avanço da doença.

Como o vírus se propaga via gotículas respiratórias, os profissionais estão no topo da classificação de risco de contaminação pela Covid-19, assim como os demais profissionais da área de saúde. As medidas foram adotadas seguindo as recomendações divulgadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quando esses estabelecimentos foram reabertos.

O profissional dentista, Marcelo Leal Veneziano, esclarece que esses tipos de cuidados já eram realizados antes mesmo da pandemia, mas agora foram intensificados. “Sempre fizemos uso de autoclave e uso de campo cirúrgico [equipamento de esterilização]. Agora estamos demorando pouco mais entre um paciente e outro para uma perfeita assepsia do local – não que antes isso não fosse uma preocupação. Mas hoje há mais conscientização por parte dos funcionários. Os protetores sempre usamos também. Agora a novidade com a pandemia são os protetores faciais, antes usávamos óculos para proteção dos olhos. Até algumas semanas atrás era impossível encontrar máscaras no mercado, quando as encontrei eram limitadas a uma caixa por profissional”.

Ele relata ainda que, em tempos de pandemia, muitos profissionais estão com medo de realizar procedimentos que gerem muito aerossol, como, por exemplo, uma simples restauração. “Eu mesmo estou realizando somente urgências e algumas cirurgias”, conta lamentando que, com a crise gerada por conta do Covid-19, o número de pacientes diminuiu afetando a categoria.

O cirurgião-dentista, Ney Quagliatto também afirma que já existiam protocolos, mas que com a pandemia houve um incremento com os cuidados nos atendimentos dos pacientes. “Na odontologia sempre houve protocolos de atendimento para a proteção dos profissionais e pacientes, principalmente após o surgimento do HIV, nos meados da década de 80, os protocolos se tornaram mais rígidos. Então os cirurgiões dentistas já vêm tomando todas as medidas necessárias, como o uso de batas, gorro, luvas, máscara, campo cirúrgico, isolamento absoluto descartáveis, óculos de proteção, instrumentais e equipamentos esterilizáveis. Notamos que houve incremento do uso de bochechos de desinfecção, assepsia das mãos dos pacientes com água, sabão e álcool 70% e desinfecção dos calçados ou o uso do ‘pró-pé’; assim como o uso do ‘face shield’ [máscara de proteção total] se tornou mais habitual e necessário pelos profissionais. Uma mudança mais radical foi a diminuição no uso do famoso ‘alta-rotação’ que está mais restrito, e o uso de jato de bicarbonato é desaconselhado, pois produzem ‘aerossóis’ que podem disseminar bactérias para até 6m²”.

Precaução já começa na hora do agendamento

Além das medidas já adotadas pelos profissionais e como medida preventiva, já no agendamento por telefone ou WhatsApp realiza-se uma anamnese, com questionamentos ao paciente sobre se apresentou algum quadro gripal nos últimos 14 dias, se teve convívio com alguém com quadro gripal nos últimos 14 dias, se apresentou sintomas de febre, dores no corpo, diarreia, tosse, ou perda de olfato ou paladar, se tem mais de 60 anos ou se é portador de doença cardíaca, dos pulmões ou autoimune. Em caso afirmativo deve se agendar para depois de 21 dias, caso não seja uma necessidade emergencial.

“Ainda se torna necessário realizar consultas agendadas e espaçadas para que não haja aglomeração e cruzamento de pacientes na sala de espera, e com intervalo mínimo de 20 minutos para que os procedimentos de higiene e assepsia sejam realizados. É bastante recomendado que tentemos manter o ambiente o mais ventilado possível e com bastante penetração da luz solar, evitando também ‘varrer a seco’ o chão. Preferencialmente limpar com pano úmido com solução própria desinfetante. Assim tomadas essas e todas as medidas de prevenção no atendimento aos pacientes neste período de pandemia, certamente chegaremos novamente à normalidade da vida com muita saúde”, explica Ney.

“Estamos preparados para atender com toda a segurança”, diz CRO/AL

A presidente do Conselho regional de Odontologia em Alagoas (CRO/AL), Márcia Telma Tenório Lins, diz que a categoria está preparada para atender com toda a segurança que requer o momento. “Infelizmente perdemos dois profissionais em apenas uma semana na capital e quinta-feira (28) foi confirmado um teste positivo em outra colega. Mas nossa equipe de fiscalização está de prontidão para que todas as regras sejam cumpridas”.

Márcia Telma também contraiu o vírus. Ela conta que todos os cuidados para evitar aglomeração de pacientes estão sendo tomados. “Ainda estou convalescente da Covid-19, mas tenho comandado e acompanhado de perto todas as ações da diretoria do CRO/AL, inclusive já editamos várias decisões que visam orientar os cirurgiões dentistas tanto da rede pública quanto da rede privada na execução de suas funções diante da pandemia que assola o mundo”.

A presidente do CRO/AL explica que tais procedimentos de segurança são colocados em prática desde da faculdade. “Neste momento de pandemia todas as medidas preventivas foram reforçadas através da adoção de novos protocolos de atendimento embasados nas recomendações publicadas pelos órgãos internacionais de saúde e pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO)”.

SOEAL

A presidente do Sindicato dos Odontologistas no Estado de Alagoas (Soeal), Giuliana Mafra, considera um risco a abertura gradativa dos estabelecimentos.

“Não está havendo atendimentos odontológicos eletivos na rede pública. Apenas acontecem os de urgência e emergência, por determinação da ANS, CRO, CFO, OMS e decretos do estado e município. Porém, na rede privada, os dentistas estão atendendo com hora marcada, reduzindo o número de pacientes e seguindo normas técnicas da Anvisa. No entanto, não está havendo nenhuma fiscalização nos estabelecimentos. O que considero um risco, pois não temos como ter certeza do cumprimento destas normas de biossegurança. Acho que o atendimento com hora marcada não tira os riscos. Além disso, sabemos das dificuldades de se conseguir os EPIs. Têm também as questões de adaptação de estrutura. Os consultórios devem ter janelas para renovar o ar e nem todos têm. São condições que precisam ser consideradas. Uma vez que a vigilância sanitária colocou as normas tem que fiscalizar. A entidade não tem o poder de polícia para fazer isso. O que conseguimos é que sejam cumpridas as normas nesses atendimentos. Como é uma situação econômica complicada, o dentista é profissional liberal, precisa reabrir. O sindicato está junto ao CRO tentando acompanhar todas essas medidas”, pontua Mafra acrescentando que a entidade já entrou em contato com o Ministério Público, “mostrando a situação das unidades de saúde em Maceió”.

VÍTIMA

A dentista Fernanda Torres, que estava internada na Santa Casa de Maceió por Covid-19, faleceu na quinta-feira. Uma forte mobilização foi feita nas redes sociais por doações de sangue. Torres estava grávida de seis meses e precisou passar por uma cesariana de urgência. O bebê sobreviveu, mas o estado de saúde não foi divulgado. A presidente do Soeal disse que não tem como saber qual foi o meio de contágio dos dois profissionais que faleceram. O que se sabe é que, no caso de Fernanda, ela teria contraído o vírus do esposo.

Fonte: Tribuna Independente / Texto: Lucas França

(Foto: Edilson Omena)