O último domingo trouxe o final das eleições municipais em locais que ainda tinham segundo turno, a exemplo da capital Maceió. E após uma semana da divulgação do resultado, um tema que sempre esteve em pauta, volta à tona. A relação das aglomerações nos atos de campanha eleitoral e o aumento dos casos de coronavírus em todo o país.

Em Alagoas, o crescimento de mais de 40% no número de novos casos de coronavírus pode ser indicativo de uma “segunda onda” da doença. Especificamente em Maceió, o número de novos casos de Covid-19 tem apresentado alta.

Segundo estudo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) nas últimas cinco semanas o número de novos casos dobrou. Segundo o Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz, Maceió e outras oito capitais têm probabilidade alta, mais que 95%, de tendência de crescimento a longo prazo.

De acordo com o último boletim do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, divulgado no último dia 30, os indicadores apresentados demonstram o forte avanço dos casos registrados ao longo da 48ª semana epidemiológica (SE) em Alagoas, confirmando a tendência de alta desenhada nas últimas semanas. Os 1.254 casos notificados na última semana representam um aumento de 43% em relação ao período anterior. Entre as localidades analisadas, Maceió continua liderando essa expansão, tendo sido notificados 477 casos na 48ª semana epidemiológica, que corresponde a um incremento de 54% em relação à semana anterior. Com relação aos óbitos, o estado continua mantendo uma tendência de queda, tendo registrado 20 óbitos na última SE.

O boletim aponta ainda que considerando que as evidências de controle são verificadas a partir de um período mínimo de quatorze dias de queda nos números de casos e óbitos, entende-se que, ao final da 48ª SE, Alagoas apresenta sinais de descontrole da transmissão do novo coronavírus, que poderá causar expansão de novos casos e óbitos por todo o estado caso não haja uma reversão desse cenário.

À Tribuna, o professor e pesquisador da Ufal, Gabriel Badue, que coordena o projeto de extensão responsável pelas análises, disse que sobre as aglomerações, dado o tipo de trabalho que o grupo coordenado por ele vem desenvolvendo, não se tem como apontar uma causa específica para o descontrole.

“Muito provavelmente, o comportamento observado nos últimos meses, incluindo aglomerações políticas, em bares, eventos e até mesmo em espaços públicos, contribuíram para o aumento da transmissão”.

Na última semana, o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres concedeu uma série de entrevistas à imprensa para tratar sobre as proibições dos grandes eventos de final de ano, além de analisar o atual cenário da doença em Alagoas.

“Nós temos praias, bares, shoppings e restaurantes lotados com muita frequência. Se você trafega pela orla de Maceió ou passa por outros bairros da capital, você percebe imediatamente que poucas pessoas estão precavidas, usando suas máscaras. A mesma situação se repete em muitos municípios. Claro que os casos da Covid-19 irão crescer por conta desse descuido das pessoas. As aglomerações políticas também contribuíram para que estejamos convivendo com esse aumento de casos da Covid-19”, considera o secretário.

MPs transferem responsabilidade e TRE opta por silêncio sobre as aglomerações

No início da campanha eleitoral, o Ministério Público do Estado (MPE), enviou um ofício para a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), de modo que aquela pasta estabelecesse quais seriam as medidas sanitárias e de saúde necessárias que os candidatos deveriam adotar durante as atividades de campanha. No entanto, pouco foi visto de medidas para conter os desrespeitos às normas sanitárias.

A reportagem da Tribuna procurou o MPE para saber a avaliação que o MP Estadual poderia fazer sobre esse cenário de aumento dos casos de coronavírus pós-eleição. A assessoria do órgão explicou que “pauta de eleição, mesmo que relacionada à Covid-19, é com a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE)”.

Procurada, a Procuradoria Regional Eleitoral, através de sua assessoria, orientou que a reportagem solicitasse a avaliação do MPE, “visto que foram os promotores eleitorais que estiveram em campo, e que atuam em 1º grau. Nossa atuação é a nível de TRE, em segundo grau (grau de recurso). Por ser eleições municipais”.

A assessoria reforçou ainda que a PRE entende que este tema é uma questão de saúde pública, e não uma matéria eleitoral. Considerando que as normas sanitárias são determinadas pelo Ministério da Saúde, e no caso dos estados, pelas secretarias de saúde.

EM SILÊNCIO

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) disse que não iria se pronunciar oficialmente sobre o tema.

PREOCUPAÇÃO

Em recente entrevista para a Tribuna, o presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Fernando Maia, disse ver com preocupação o crescimento no número de casos no estado.

“Estávamos numa curva bem descendente, e mais ou menos da campanha eleitoral para cá voltou a subir. A gente tem que olhar com muita cautela e observar se é de fato uma segunda onda que está vindo, porque se for necessário é preciso tomar medidas mais restritivas. Com certeza as campanhas contribuíram para o aumento de casos, porque muita gente fazendo aglomeração, andando sem máscara, fazendo passeata, carreata, acredito que pode não ter sido a única causa, não foi, mas contribuiu bastante”.

Fonte: Carlos Victor Costa \ TRIBUNA HOJE

(Foto: Divulgação)