Com quase 100 kg, Ana Salinas, 48, tinha aceitado a obesidade e não pensava em emagrecer. Mas isso mudou quando ela passou mal em um evento. O médico alertou que a confeiteira precisava perder peso para não morrer precocemente. Mesmo trabalhando com doces, ela conseguiu fazer uma reeducação alimentar e chegou aos 58 kg:

“Durante toda a minha infância e adolescência eu lutei contra o sobrepeso. Nessa época, eu praticava várias atividades físicas, fazia balé clássico, sapateado e nado artístico, meu maior problema era a falta de disciplina na alimentação.

Como tinha o corpo mais cheinho e queria ser magra igual a minha irmã e minhas amigas, fazia todo tipo de dieta que aparecesse. Até conseguia emagrecer, mas sofria com o efeito sanfona.

Como Emagreci – Ana Salinas – Arquivo pessoal – Arquivo pessoal Imagem: Arquivo pessoal

Casei com 45 kg e pouco tempo depois engravidei. Meu primeiro ganho de peso considerável foi justamente na gravidez, engordei 35 kg, chegando a 80 kg, aos 32 anos de idade. Foi um baque, porque sou bem baixinha, tenho 1,49 m, era impossível não notar o quanto engordei. Minha obstetra me alertou que eu estava ganhando muito mais peso do que o esperado. Eu tive pré-eclâmpsia e minha bebê nasceu prematura aos sete meses.

Canalizei todas as minhas energias para a minha filha, estava curtindo a maternidade e não me importei de não conseguir emagrecer depois do parto. Em 2006, quando minha filha completou um ano, eu quebrei o pé durante uma brincadeira com ela, tive que fazer uma cirurgia e ficar de repouso por três meses, sem pisar não chão. Foi uma farra, eu só comia e engordei ainda mais.

Assumi de vez que estava acima do peso e resolvi ser uma gordinha estilosa. Comecei a pesquisar sobre o empoderamento de pessoas obesas, comprava roupas plus size modernas.

Uma questão que contribuía muito para minha obesidade era minha compulsão por doces. Sou confeiteira há 27 anos e sempre tinha uma panela de brigadeiro para raspar, um cupcake que sobrava para comer. Outro ponto é que eu nunca tinha horário para comer, eu trabalhava até tarde e só ia comer quando já estava morrendo de fome, conclusão, só comia besteira e o que tinha pela frente.

Também era muito sedentária. Meu ateliê fica a um quarteirão da minha casa e era uma dificuldade fazer uma caminhada até lá. A própria confeitaria exigia um esforço físico que era bem sacrificante para mim, como abrir uma massa com rolo de um bolo para 300 convidados ou deslocar o bolo de uma mesa para outra.

Em 2008, eu desmaiei em uma feira de confeitaria. Procurei ajuda médica, fiz um check-up e descobri que os resultados dos exames estavam todos desregulados e que eu estava em um quadro de obesidade grave com 95,7 kg. Foi um choque, eu nunca tinha engordado tanto.

O médico disse que que eu teria que emagrecer por bem ou por mal, que era uma questão de vida ou morte.

Ele me deu um prazo de seis meses para tentar perder peso de forma natural, por meio de uma alimentação saudável, antes de me indicar para a cirurgia bariátrica. Tenho uma sobrinha que mora comigo, com espectro autista e que tem alguns distúrbios alimentares devido à condição. Por indicação dela, que estava participando do Vigilantes do Peso, decidi experimentar o programa. Optei pelo plano digital e fazia o acompanhamento pelo aplicativo.

Como o programa não define um plano alimentar para o associado, eu não seguia nenhuma dieta. Cada alimento em uma pontuação e existe um ‘número X’ de pontos que eu podia comer durante o dia, conforme meu objetivo.

Tinha a liberdade de escolher o que quisesse, desde que a soma de tudo no dia não ultrapassasse minha cota de pontos do dia. Obviamente, os alimentos mais calóricos e gordurosos valiam mais pontos. Eu poderia comer um strogonoff em vez de uma salada, mas perderia muitos pontos —esse incentivo da “administração” dos pontos me ajudou a iniciar uma reeducação alimentar.

Eu me dei uma chance e resolvi tentar seguir o programa por uma semana. Na primeira, já perdi 2,5 kg e achei interessante, pensei que poderia funcionar. Com o tempo, cortei os açúcares refinados, excesso de gorduras, tirei o refrigerante e comecei a experimentar várias comidas saudáveis. Meu prato passou a ter saladas variadas e um peixe, frango ou carne de acompanhamento. Tracei metas semanais e, no primeiro mês, emagreci 5 kg.

Combinei com a minha filha, hoje com 15 anos e atleta do nado artístico por minha influência, que quando perdesse 10 kg eu voltaria a praticar o esporte. Fiquei 20 anos longe da modalidade, mas retornei e saí do sedentarismo. Treino três vezes por semana duas horas e realizo um preparo físico fora d’água. Atualmente faço parte de uma equipe voltada à categoria adulta, participo de competições e já ganhei duas medalhas de ouro.

Em dois anos do programa Vigilantes do Peso eliminei 37 kg. Estou com 48 anos e 58 kg. Hoje me sinto muito melhor, meus exames estão todos ok. Continuo trabalhando como confeiteira, de vez em quando como um doce quando sinto vontade, a diferença é que agora tenho controle sobre a minha compulsão e alimentação”.

Colaboração para o VivaBem \ UOL.COM

FOTO: Imagem: Arquivo pessoal