Não pretendia gastar mais tempo com o coronel Arthur Lira. Mas, diante do chilique do deputado nesta quinta-feira, sou obrigado a dedicar mais algumas palavras ao presidente da Câmara dos Deputados. Sem querer me gabar, ele confirmou o que escrevi em texto anterior. É um leão desdentado rugindo diante de uma evidência: seu poder de barganha com o governo está virando poeira.

Um dia após ser derrotado na votação que manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão, Lira saiu atirando no ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Brazão é acusado de ser o mandante no assassinato da vereadora Marielle Franco. O alagoano atuou para derrubar a decisão do STF e liberar o presidiário. Com seu fracasso exposto na Câmara, acusou o golpe recorrendo àquela diplomacia típica de arruaceiros.

A derrota de Lira foi destaque na grande imprensa, o que o deixou ainda mais possesso. Questionado por jornalistas durante um evento, acusou o governo de plantar supostas mentiras sobre sua atuação no episódio. Sem coragem de atacar diretamente o presidente Lula, o deputado mirou no alvo mais fácil. Disse que o ministro Padilha é seu desafeto pessoal, além de “incompetente”.

Desde o ano passado, Arthur Lira pressiona Lula a trocar o titular pela articulação no Congresso. Como o petista não cedeu, ele ameaça o tempo todo travar a pauta da Câmara, impedindo a votação de projetos de interesse não somente do governo, mas do país. Também nesta quinta, segundo a Folha de S. Paulo, o deputado afirmou com todas as letras: “Vai pegar fogo essa semana”. De novo, engatilha as armas da chantagem.

O governo não governa sem o parlamento. Nada de errado com isso. Tem de conversar, ouvir adversários, negociar concessões e fechar acordos. Está tudo em harmonia com as regras do jogo. Mas essa operação deve obedecer a princípios de transparência e legitimidade. A coisa se complica quando um dos lados entra no debate com a faca no pescoço do outro. E é justamente esta a especialidade de Arthur Lira e assemelhados.

O presidente da Câmara – que tratou o governo Bolsonaro com fidalguia aristocrática – pode ser tudo, menos um bobo. Para levar o que deseja, pode apelar a expedientes nada republicanos, com o aval de extremistas da direita. Mas, como reza a lenda, a fúria não costuma ser boa conselheira. Ao governo, além de muita calma nessa hora, cabe jogar com agilidade, clareza nos argumentos e firmeza na medida exata. Uma combinação que exige as qualidades de profissionais da arena política.

CADA MINUTO

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