A diabete é uma doença crônica provocada pela produção insuficiente de insulina ou pela má absorção dessa substância. Ela é responsável pela quebra das moléculas de glicose (açúcar), transformando-as em energia para o organismo. Quando esse processo não ocorre adequadamente, o nível de glicose no sangue fica alto, o que pode levar a complicações no coração, nos nervos e nos olhos, por exemplo, se não for controlado.

Uma pesquisa de 2017 feita pelo Ibope Inteligência com 145 pessoas com diabete mostrou que o maior medo delas em relação à doença é amputar algum membro, indicado por 32% delas. O mesmo porcentual foi visto para o risco de ficar cego. Os menores medos são ter alguma doença cardíaca (3%) ou restrição alimentar (2%).

Os resultados indicam que poucos sabem das complicações cardiovasculares da enfermidade, mas elas são a principal causa de morte nesse público. O caso é mais grave para quem tem diabete tipo 2, que representa 90% dos diagnósticos no Brasil. Sobre as amputações, embora possam ocorrer devido a um problema chamado neuropatia, também conhecido por pé diabético, a maioria é evitável. É importante cuidar bem dos pés, principalmente, e consultar um médico em caso de alguma alteração.

Eliud Garcia Duarte Júnior, coordenador da Comissão Nacional de Atuação Multidisciplinar de Diabetes e Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, afirma que a neuropatia é considerada um marcador para doença renal, outro agravamento possível da diabete. “A lesão dos vasos e de nervos que controlam as funções involuntárias do corpo a longo prazo acarretam em destruição da função renal, levando à insuficiência renal crônica, diálise e necessidade até de transplante de rim”, diz o médico.

Abaixo, explicamos melhor essas e outras complicações da diabete, a maioria relacionada ao nível alto de glicemia. Se bem controlada, as chances de qualquer problema é menor.
Neuropatia

A endocrinologista Hermelinda Pedrosa, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), explica que essa complicação ocorre devido à hiperglicemia crônica associada a alterações nas células nervosas. “Há um comprometimento das fibras nervosas que têm propriedades como sensibilidade e percepção de temperatura”, diz.

Com essa alteração, a pessoa não consegue identificar se algo está quente, frio ou lhe causando dor, o que pode levar a ferimentos. Além da glicemia alta, a pressão arterial descontrolada, aumento do colesterol e excesso de peso também favorecem a neuropatia. Segundo a médica, a complicação pode evoluir de forma silenciosa por até sete anos.

É importante que a pessoa com diabete procure um especialista diante de qualquer percepção diferente. Médicos também são incentivados a investigar alterações nos pés dos pacientes. Alguns dos sintomas da neuropatia são sensação de queimação e choques elétricos, pontadas, formigamento e dormência.

Para o diagnóstico, um questionário e testes de sensibilidade no consultório são realizados. Recentemente, chegou ao Brasil o Neuropad, teste que ajuda a rastrear a neuropatia por meio da avaliação das fibras que controlam a sudorese. “É comum a pessoa com diabete ter pele seca, que favorece rachaduras, fissuras e pode levar a infecções”, diz Hermelinda.
Diabete e doença cardíaca

O alto nível de glicose no sangue leva a uma inflamação dos vasos sanguíneos e formação de placas de gordura nesses dutos. O estreitamento dos vasos somado a fatores de risco como aumento do colesterol ruim e excesso de peso é um quadro favorável ao enfarte ou ao acidente vascular cerebral (AVC). Quem tem diabete deve manter o colesterol abaixo dos 70mg/dl.

Outro alerta é que a diabete aumenta a chance de a pessoa ter fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca que eleva o risco de AVC. A doença faz com que o coração bata de forma descompassada e irregular, favorecendo a formação de coágulos.

Para evitar problemas cardiovasculares, uma pessoa com diabete precisa ter alimentação saudável, fazer atividade física, gerenciar o estresse, monitorar a doença e usar as medicações conforme orientado. O controle do peso também é importante, uma vez que a diabete tipo 2, na maioria dos casos, está associada à obesidade.
Diabete e doenças nos olhos

Segundo a SBD, quem tem diabete está sujeito à cegueira, mas com exames regulares e mantendo a taxa de glicemia em níveis adequados, há pouco ou nenhum risco. Pessoas com diabete têm 40% mais chance de desenvolver glaucoma e 60% de desenvolver a catarata.

Outra complicação é a retinopatia diabética, alteração na rede vascular da retina que compromete a função de reconhecer e interpretar imagens. “Os números podem chegar a 90% dos portadores de diabetes tipo 1 e 60% do tipo 2 em casos de pacientes com mais de dez anos da doença”, diz Antônio Sérgio Franca Neves, oftalmologista do Hospital CEMA. A complicação também decorre dos níveis descontrolados de glicemia.

A visão embaçada pode ser um dos primeiros sinais da retinopatia e a melhor forma de preveni-la é fazer exames regulares. “Todo paciente diabético precisa fazer um exame oftalmológico anual, já que, muitas vezes, mesmo sem sintomas, a retinopatia pode já estar instalada”, alerta Neves. Além disso, ele orienta fazer um controle rigoroso dos índices de glicemia.
Lipohipertrofia

Existe uma complicação da diabete que é muito comum e pode ser evitada se a pessoa for bem instruída quanto à aplicação da insulina. A lipohipertrofia é caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura abaixo da superfície da pele e tem três causas principais: tempo de uso da insulina, falta de rodízio dos locais de aplicação e reutilização de agulhas.

Um estudo publicado no periódico Diabetes & Metabolism, feito com 430 pessoas, aponta que 64% delas apresentaram lipohipertrofia, sendo que 98% não realizava o rodízio adequadamente. Embora tenha causas controláveis, o endocrinologista Marcio Krakauer afirma que a complicação acomete pessoas com fatores predisponentes.

“Algumas vezes, o nódulo não é visível, mas às vezes é tão visível que pode causar questões emocionais. Outro problema é que na área afetada, tem absorção de 15% menos de insulina”, diz o médico. A região acaba ficando menos sensível também, o que estimula as pessoas a continuar aplicando no mesmo local para não sentir o incômodo da agulha.

A farmacêutica Carolina Mauro, especialista em treinamento de injetáveis, educadora em diabete e consultora educacional da BD, diz que fazer o rodízio dos locais de aplicação é o principal fator para evitar a lipohipertrofia. “São recomendados o posterior do braço, abdome, frente e lateral externa das coxas e nádegas. Dentro dessas regiões, divide em pequenos pontos de aplicação”, orienta ela. O plano de rodízio deve ser avaliado junto com o médico levando em consideração a rotina da pessoa.

Outras recomendações incluem o comprimento da agulha, que deve ser curto (quatro milímetros para canetas aplicadoras e oito milímetros para seringas), avaliar necessidade de prega subcutânea e ângulo de inserção da agulha. A prega é um ponto que se dá para distanciar o tecido de gordura do músculo a fim de evitar aplicação intramuscular.

Já o reúso da agulha ou seringa, feita por comodidade ou redução de custos, tem de ser evitado para não agravar o quadro da lipohipertrofia. “Pode acontecer infecção no local. Na agulha tem sangue, células, pode proliferar bactérias. Inserir novamente na pele leva tudo isso para o organismo”, alerta Carolina.

No caso de os nódulos surgirem, Krakauer orienta parar com a aplicação no local afetado de 15 dias a três meses. “Se o nódulo é novo, ele pode regredir. Em casos crônicos, é difícil voltar ao normal”, diz o especialista, que aposta na prevenção por meio da orientação adequada das pessoas com diabete.

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