A quantidade de nascimentos de bebês caiu mais de 44% em Alagoas, nos dois primeiros meses de 2021. Em janeiro, o estado registrou 3.490 nascimentos, contra 1.953 no mês passado (fevereiro). O levantamento é da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais em Alagoas (Arpen/AL), com base nos registros de nascimentos realizados nos cartórios do estado.

Desde a chegada da Covid-19 no Brasil, o número de nascimentos de bebês tem diminuído significativamente. Em março de 2019 foram 3.542 registros, que oscilaram durante os meses seguintes, com alta no mês de julho com 4.431. Porém no decorrer dos períodos seguintes, a média foi despencando até chegar dezembro com 3.286 registros de nascimentos em Alagoas.

Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen-Brasil, informou ser nítido os impactos nos óbitos e nos casamentos diante da pandemia de Covid-19 no país. Para ele, afetou todos os aspectos vitais da população brasileira. “Mas agora, passados os meses desde o mês de abril, verificou-se o primeiro impacto na natalidade da população brasileira”, afirmou.

A funcionária pública Manoela Omena, que está grávida de seis meses, diz que ficou bem receosa com a notícia, já que a pandemia traz uma preocupação a mais. Ela contou ser muito difícil conciliar uma gravidez nesse cenário de reclusão total, sem contato direto com parentes e amigos. “A solidão é uma tormenta, mas é o que podemos fazer para mantermos nossa integridade física”, frisou.

“Meu maior medo é pegar a dita cuja. Reforçamos os cuidados em casa, banimos visitas e seguiremos assim até o final da gestação. No mais, o que mais pesa é manter a sanidade mental em dia… Tenho tentado relaxar e fazer exercícios em casa, ouvir música, brincar com Pedro [filho de um ano e três meses]. Assim me desconecto um pouco da realidade”, declarou.
Perfil no Instagram compartilha experiência de ser mãe na pandemia

A jornalista Márcia Amy também passou pela mesma apreensão há quase um ano. Ela classificou a gestação e o nascimento do filho Benício como desafiador. “Para nós foi o maior presente. Deus foi tão generoso com a gente que no meio da pandemia nos permitiu viver essa experiência maravilhosa de sermos pais”, mencionou.

“Por isso criei um perfil no Instagram para compartilhar a experiência de me tornar mãe em plena pandemia, com o distanciamento social e tantas outras limitações. Sei que muitas mamães estão passando por isso e também quero conhecer suas histórias”, disse Márcia.

Para ela, essa troca de experiência acalenta, fazendo perceber que essa realidade não é só sua. “Meu bebê nasceu no pico da pandemia aqui em Maceió, no dia 9 de maio de 2020. Além das preocupações comuns do parto, outras tomaram conta da nossa rotina até o dia da chegada do meu filho”, contou.

“E o dia foi assim: sem doula, só um acompanhante, sem a avó ou titia como havíamos planejado, proteção com máscara, protetor facial, álcool em gel. Troca de roupa, lava as mãos, tira máscara, coloca outra máscara… e no momento que ele chegou nem pode ver meu sorriso, mas certeza que sentiu o amor e felicidade através dos meus olhos e do meu abraço. Ele se calou com o som da minha voz. Mas dava para sentir que as coisas estavam diferentes. Uma tensão no ar. Só o fato de ir para o hospital já causou medo. Medo de me contaminar [com o Covid-19], medo de contaminar o bebê. Meu médico estava tranquilo, tentou me deixar calma do jeito dele, mas não foi fácil esquecer que estávamos num mundo diferente, que meu bebê ia chegar em plena pandemia”, salientou.

TUDO DEU CERTO

Márcia destacou que Benício foi um dos primeiros a usar o protetor facial ao sair da maternidade. Seus avós não puderam nem chegar perto do hospital, grupo de risco. “Mas o medo não atrapalhou a chegada do meu bebê. O mais importante foi que no final tudo deu certo”, ressaltou.

Ela finalizou deixando dicas para as mamães prestes a receber seus bebês. Uma delas é manter a calma, por mais difícil que o período esteja. “No final será como Deus planejou”, lembrou.

“Leve seu álcool em gel para o hospital, em alguns não colocam no quarto, apenas no corredor; levar máscaras, porque será preciso trocar principalmente a mamãe quando for amamentar; e para o acompanhante listar tudo que for precisar para não ter que ficar saindo”, concluiu.
Mulheres grávidas são mais suscetíveis à forma grave da Covid-19

Durante a pandemia, o Ministério da Saúde colocou mulheres grávidas e puérperas no grupo de risco para a Covid-19. A Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) também orientou os casais a esperarem para ter filhos.

Segundo o médico e presidente da Federação, Olímpio Barbosa de Moraes Filho, se a mulher puder, deve adiar esse momento. “Ao engravidar, ela precisará sair de casa para fazer exames, pode ter que enfrentar aglomerações. Se a consulta é no SUS [Sistema Único de Saúde], o hospital pode estar superlotado”, alertou.

Beatriz Torres Bachot, que mora em São Luiz do Quitunde, interior de Alagoas, estava com 32 semanas de gestação quando foi infectada pelo novo coronavírus. Ela alega que perdeu seu bebê por conta de erros médicos após tentativas de fazer exames mais específicos sem êxito em unidades de saúde.

Conforme Beatriz, a doença causada pelo novo coronavírus é muito perigosa para mulheres grávidas. “Em questão de horas, agravou meu quadro clínico e antecipou o parto do meu bebê, embora eu ainda estivesse no oitavo mês de gestação. Tudo isso aconteceu enquanto eu estava na unidade de saúde da minha cidade, que não tinha condições de realizar o parto”.

GRUPO DE RISCO

Um estudo da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que, além das gestantes serem mais suscetíveis à forma grave da doença, quando comparadas às grávidas sem Covid, aquelas com o Sars-CoV-2 têm risco maior de desenvolverem a forma grave, de serem admitidas em unidades de terapia intensiva (UTIs) ou de necessitarem de algum tipo de ventilação.

De acordo com a pesquisa, as possibilidades de complicações são ainda maiores quando as gestantes têm comorbidades como hipertensão, diabetes e obesidade. A análise mostrou também que gestantes diagnosticadas com Covid são menos propensas a apresentarem sintomas, comparadas a mulheres não grávidas em idade reprodutiva, mas, quando eles estão presentes, os mais comuns são febre, encontrada em 40% das sintomáticas, e tosse (41%).

Outro estudo publicado no Canadian Medical Association Journal concluiu que a infecção por Sars-CoV-2 na gestação está associada à pré-eclâmpsia, natimorto, parto prematuro e outros resultados adversos.

Fonte: Tribuna Independente / Ana Paula Omena
(Foto: Sumaia Villela / Agência Brasil)